quarta-feira, abril 28, 2021

1ºCIEC - 2/4 - O assalto

         Entraria pelo banco, mascarado, claro. Com confiança iria até à caixa e mostrar‑lhe‑ia o papel onde estava escrito:

- “Isto é um assalto, passe o dinheiro que tem na caixa e ninguém se irá magoar!”

Hesitava sobre se nessa altura lhe deveria mostrar a arma e que arma devia levar, uma faca ou a pistola de água que parecia de verdade.

Sabia pelos filmes que teria apenas alguns segundos antes que alguém tocasse o alarme e viesse a polícia. Levava um saco onde colocaria o dinheiro e sairia dali em passos rápidos e seguros. Já na rua, montaria na bicicleta, seguiria pelas ruas estreitas entre turistas, deixaria para trás a bicicleta, o casaco, a máscara. Ninguém o iria reconhecer sem eles.

Na noite antes do dia escolhido dormiu mal e estava já bem desperto quando o despertador tocou. Levantou-se e procurou nos gestos rotineiros alguma tranquilidade. Olhou-se no espelho quando decidiu não fazer a barba, e não lhe devolvia a imagem do homem confiante que queria ser. Teve de voltar atrás duas vezes porque se esquecera primeiro da máscara, depois da faca.

 Chegou quando abria e mesmo assim tinha dois clientes à sua frente. Resolveu esperar cá fora que fossem atendidos, os dois e um terceiro que chegou depois dele. Entrou finalmente quando seria o único na dependência além dos funcionários. Sentiu-se tremer quando se dirigia para a caixa e foi então que ouviu atrás dele o barulho da porta a bater e entraram dois mascarados. Um deles gritou:

- “Todos para o chão, isto é um assalto!”

Trazia com ele uma metralhadora. O outro avançou para o balcão, saltou para o lado de lá e começou a encher um saco. Foi rápido e eficiente, e os dois saíram sem disparar um tiro quando começou a soar o alarme. Devem ter tempo suficiente para escapar, pensou, enquanto se levantava do chão. Lembrou-se então que estava também mascarado. Se o apanhassem ali, iriam pensar que estava com os outros dois. Saiu disparado. Montou na bicicleta, seguiu pelas ruas apertadas, deixou para trás a bicicleta, o blusão e a máscara. Chegou a casa em sobressalto, o coração a bater. Talvez ainda pudesse recuperar a bicicleta se ninguém desse por ela. E talvez fosse melhor repensar esta opção profissional, especialmente depois de um dia a terminar só em prejuízo.

3 comentários:

  1. A concorrência nem sempre é saudável :)))
    Beijinho

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  2. Pois, para primeira pedalada, não lhe correu nada bem. Pensou em muita coisa, mas esqueceu-se de que há coincidências e, sobretudo, que há ladrões que não agem sozinhos.
    Se calhar, a bicicleta já lá não estava. Nem dar um passeio para esquecer o prejuízo podia!
    Um beijinho, Gábi, e um dia bom.

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  3. Há muita gente a pensar o mesmo! :)

    Abraço

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