Sentou-se no banco e olhou à sua volta. Depois das amendoeiras, começavam os ramos das árvores a cobrir-se de folhas e flores. Havia alguma erva, a precisar de cuidados depois de tantas vezes calcada por quem não respeitava os caminhos. Aquele era um jardim de passagem, com um solitário banco, quase sempre deserto, porque ninguém o escolhia para assento.
Os prédios altos à volta vigiavam a pouca luz que
deixavam passar.
Não reconhecia o local, constatava apenas o que via à
sua volta. Estava bem, não tinha frio, nem fome. Sabia que era para esperar alguém,
mas não se lembrava bem de quem.
Talvez da sua mãe.
Viu então um homem que lhe pareceu vagamente
conhecido. Passara-lhe a princípio despercebido porque imóvel encostado a uma
arvore. Agora reparara nele e não gostou do olhar dele. Era-lhe vagamente conhecido.
Lembrava um pouco o seu pai, mas o seu pai nunca andaria assim vestido, com
calças de ganga e cabelo comprido. O pai acordava sempre bem-disposto, era o
primeiro a arranjar-se de manhã, cheirava bem quando lhe dava um beijo de bom
dia. Gostava de quando ele a levava à escola.
Já não o via há quanto tempo?
Olhou para as mãos que tinha sobre os joelhos e não as
reconheceu. Tinham-se transformado nas mãos da sua avó, com pintinhas
castanhas, veias azuladas e as unhas para o amarelo. Algo de estranho se
passava.
O homem veio na sua direcção, vinha falar com ela.
Assustou-a, o que é que ele poderia querer dela?
- Mãe, está na hora de irmos!
Como mãe? Porque lhe chamava mãe a ela? Então, por uns
instantes viu para além do ar impaciente e cansado que ele mostrava e viu um
menino que ela também levara à escola.
- Sim Zé, está na hora de irmos.
Muito belo amiga.
ResponderEliminarNão há nada pior na vida de que não ter memórias.
Abraço e saúde.
Já deu uma olhada no novo desafio?
Tão bonito e comovente. Parabéns!
ResponderEliminarBeijos