“Desculpe, mas o Sr. não pode entrar sem máscara”
O funcionário do Café queria ser assertivo, mas o
cliente, um homem com setenta anos, cabelo e barba grisalhos e fato cinzento, não
parecia estar a ouvi-lo.
Lá dentro dividiram-se as opiniões, entre os que se
indignavam, em minoria, e os que audívelmente clamavam: “deixe lá o senhor”.
“Deixar, não deixo nada, depois vêm as multas e
ainda perco o emprego”.
Entretanto, o senhor apercebeu-se do que se passava.
Da algibeira do casaco tirou uma máscara cirúrgica descartável (que já deveria
ter sido descartada há algum tempo) e colocou-a: “Desculpe” disse para o
funcionário, “Esqueci-me”. Este, baixou a cabeça e com um leve aceno, consentiu
em desculpá-lo, recuando depois para trás do balcão.
A máscara voltou para a algibeira assim que o novo
cliente se sentou numa mesa livre e pediu um café.
A ordem tinha sido reposta…até que alguém tossiu. E
era o mesmo personagem, que ao invés de tossir para o cotovelo, colocou a mão à
frente da boca quando o fez. Fez‑se um estranho silêncio em que apenas ele não
pareceu reparar. Dois ou três pediram a conta, os demais saltaram mesmo das
respectivas mesas para irem pagar na Caixa.
Pouco depois o Café ficava vazio. Apenas o
funcionário e o cliente, que não voltou a tossir e parecia o satisfeito
possuidor de um segredo feliz.
Enquanto limpava as mesas decidiu o funcionário que ia levar aquilo de uma forma positiva e agradecer aos deuses a breve pausa no atendimento, antes da nova vaga de clients invadir as mesas vazias.
Real ou ficção, é "prato do dia" nos tempos que correm. Pessoas sem cuidado, que facilitam pondo em causa a sua segurança e a dos outros. O senhor com 70 ou com 20 anos, a idade não é relevante, tem de ter consciência por ele e pelos outros.
ResponderEliminarJá Jean-Paul Sartre sabia que o INFERNO eram os outros.
ResponderEliminarEu concordo e acrescento que o tenho mais receio dos "outros" do que da Covid-19.