Burra e Parva na sua primeira
paixão por alguém que nada valia.
Pudera saber então o que hoje sabia.
Quinze anos deslavados e feia. Queria tanto ser bonita.
Se a convidavam para uma festa, claro que ia.
Bebeu, dançou sozinha, ninguém lhe ligava. Que lhe importava?
Pelo menos que ninguém soubesse da indiferença fingida.
Então algo diferente sucedeu.
O Jaime viu-a.
Quando a chamou para um canto, foi.
Teve o primeiro beijo na boca, cuspo, fedia a álcool, a língua
dele na sua boca, as mãos dele a abrirem-lhe com força a camisa, saltou um
botão, as mãos dele geladas nos seus peitos, e o que é que lhe dizia?
"sei o que tu queres, tu queres é isto". O barulho à volta, próximo,
demasiado perto, alertou-a. Não estavam sozinhos. Empurrou-o e fugiu, entre
risos dele e de outros.
Vergonha.
Devia ter sabido. Porque outra
razão a chamaria?
Burra, Parva.
E suja, enojada com o cheiro dele
que nela sentia, como se a tivesse marcado.
Voltou mais tarde ao local do crime.
Vazio e sujo, ainda não fora a
sala limpa, garrafas e copos espalhados pelos móveis.
No chão encontrou o botão arrancado, premiu-o com força e
guardou-o: "um dia mato-o e mato-me".
Depois cresceu e deitou fora o
botão.
Poderia ser uma lenda urbana?
Estava com pressa e o semáforo nunca mais mudava, mas desde criança que tinha uma estranha aversão a carregar no botão. Pressentia um perigo nunca concretizado quando era outro alguém que impaciente o premia. Se lhe dissessem carrega aí no botão, desculpava-se, "não adianta, não é por isso que muda".
Enquanto pensava e recordava, apareceu o bonequinho verde, ouviu-se o zumbido que permitiu a ele a outros iniciar a travessia.
OU
Carregou no botão para chamar o elevador, não olhou quando a porta se abriu, entrou e caiu no vazio do poço do elevador que só depois desceu, esmagando o seu corpo já sem vida pela queda.
OU
Conseguiu aceder às contas dos poderosos, descobriu enganos, fraudes e corrupção, mas estava demasiado velho e cansado para o denunciar. Carregou no botão "Delete".
Poderia também ter carregado no "Enter" e ter enviado para os seus contactos e ficar então na expectativa do que iriam fazer com toda a informação recebida, denunciar ou ocultar?
OU
Carregou no botão da rosa amarela, desmaiada sobre a secretária, para descobrir se era verdadeira. Era. Quem a teria deixado ali? Qual seria o seu significado? Teria um admirador secreto?
Foi ver no Google, na wikipédia "Assim como as vermelhas e as corais, as rosas amarelas representam amor, respeito, alegria, amizade e desejo. Há opiniões divergentes sobre seu significado."
Gosto da primeira versão.
ResponderEliminarBeijinhos
Felizmente que os meus quinze anos não foram assim! :)
ResponderEliminarAbraço
Também gosto da primeira...
ResponderEliminar**
O presente e um futuro...num passado
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Beijos, e um excelente fim de semana.