quinta-feira, novembro 26, 2020

Post 7802 - CNEC 51/23 - 7/10 - Sim

 

Sim, era apenas o que admitia que a Maria lhe dissesse. Tinham um casamento tradicional, nada das modernices que agora se veem.

Não tiveram muito tempo para se conhecerem e ela vinha meio iludida, mas cedo ensinou-a. No primeiro mês de casados esteve a beber com os colegas e chegou tarde. Ela começou a lamuriar-se e mandou-a logo ao chão. Em casa a sua palavra era lei. Ele era o chefe da família, e quem sustentava a família. Aliás, nem admitiu que ela trabalhasse. O lugar da mulher dele era em casa.

Ela mantinha as coisas limpas, cozinhava mais ou menos, e percebeu que era melhor não lhe moer o juízo.

Tiveram duas filhas a quem também ensinou a respeitarem-no. Uma casou cedo. A outra andava com ideias. Ouviu-lhe uma conversa em que a palerma tentava convencer a mãe a defender-se. Mas a defender-se de quem? Dele? Recambiou a filha para casa da avó e só não mandou também a Maria porque a ela não tinha ouvido nada. Brincou depois com ela – porque também era capaz de brincar – que ainda a trocava por duas de vinte.

Naquele dia aconteceu-lhe uma coisa estranha. Na hora do almoço tentou levantar dinheiro e não conseguiu. Passou pelo Banco e o gerente veio-lhe com uma história estranha: que a Maria transferira tudo para uma conta dela. Como se fosse possível. A Maria não sabia nada de bancos. Era sem dúvida uma confusão do gerente. Resolveu passar por casa e ir busca‑la para que os dois fossem juntos esclarecer o sucedido.

Chegou a casa e estava tudo em silêncio.

Chamou por ela e não lhe respondeu. Reparou que o casaco dela não estava no bengaleiro.

Foi até ao quarto e faltava a roupa dela.

Na mesinha deixara-lhe uma carta.

Nesta não estava escrito sim.

2 comentários:

  1. Um mal nunca vem só. Tantos sins continuados só 'para não moer o juízo' não costumam dar bom resultado.
    Um beijinho
    M. (olamariana.blogspot.com)

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