Sim, era apenas o que admitia que a Maria lhe
dissesse. Tinham um casamento tradicional, nada das modernices que agora se veem.
Não tiveram muito tempo para se conhecerem e ela vinha
meio iludida, mas cedo ensinou-a. No primeiro mês de casados esteve a beber com
os colegas e chegou tarde. Ela começou a lamuriar-se e mandou-a logo ao chão. Em
casa a sua palavra era lei. Ele era o chefe da família, e quem sustentava a família.
Aliás, nem admitiu que ela trabalhasse. O lugar da mulher dele era em casa.
Ela mantinha as coisas limpas, cozinhava mais ou menos,
e percebeu que era melhor não lhe moer o juízo.
Tiveram duas filhas a quem também ensinou a
respeitarem-no. Uma casou cedo. A outra andava com ideias. Ouviu-lhe uma
conversa em que a palerma tentava convencer a mãe a defender-se. Mas a
defender-se de quem? Dele? Recambiou a filha para casa da avó e só não mandou
também a Maria porque a ela não tinha ouvido nada. Brincou depois com ela –
porque também era capaz de brincar – que ainda a trocava por duas de vinte.
Naquele dia aconteceu-lhe uma coisa estranha. Na hora
do almoço tentou levantar dinheiro e não conseguiu. Passou pelo Banco e o
gerente veio-lhe com uma história estranha: que a Maria transferira tudo para
uma conta dela. Como se fosse possível. A Maria não sabia nada de bancos. Era
sem dúvida uma confusão do gerente. Resolveu passar por casa e ir busca‑la para
que os dois fossem juntos esclarecer o sucedido.
Chegou a casa e estava tudo em silêncio.
Chamou por ela e não lhe respondeu. Reparou que o
casaco dela não estava no bengaleiro.
Foi até ao quarto e faltava a roupa dela.
Na mesinha deixara-lhe uma carta.
Nesta não estava escrito sim.
Antes tarde do que nunca!
ResponderEliminarUm mal nunca vem só. Tantos sins continuados só 'para não moer o juízo' não costumam dar bom resultado.
ResponderEliminarUm beijinho
M. (olamariana.blogspot.com)