Estávamos no Verão, mas o céu era de azul carregado e
o sol nunca parecera tão distante e indiferente ao que se passa na Terra.
Pouco dormira naquela noite e quando me levantei tudo
me pesava.
Estacionei o carro não muito perto, mas apesar dos
meus passos arrastados, era como que puxado para aquele edifício cinzento.
Nenhum cataclismo me iria impedir de lá chegar, nenhum motivo surgira para o
postergar.
Reparei então na jovem à minha frente. Dir-se-ia que
saltitava e quase não acreditei quando percebi que íamos para o mesmo local.
Vi como sorria à funcionária que lhe veio abrir a
porta e desaparecia lá dentro.
Pouco depois fui eu que cheguei à porta e tive de entrar.
Era a minha primeira vez ali. Respondi às questões em
falta para completar a minha ficha e sentei-me à espera.
Parecia impossível como lá fora a vida continuava. Ali
dentro tudo parecia ter parado. Cada vez mais distante do antes, não conseguia
sequer sonhar com o depois, tanto me preocupava o durante.
A funcionária veio dizer que era a minha vez e fiquei
em choque. Não vira a jovem saltitante sair. Não percebia como podia ter
passado por mim sem que eu reparasse nela, e sem assistir à sua saída não
tivera mais alguns necessários segundos para me preparar para a minha iminente
entrada.
A funcionária conduziu-me à sala, indicou-me a cadeira
onde me sentei, senti o cheiro do desinfectante, vi-me rodeada de brocas e
instrumentos parecidos próprios daquela sala de horror.
Veio então a Srª Drª e nela reconheci a jovem
saltitante. Estava desvendado o mistério, como conseguia ela sorrir assim.
Sem queixas, nem cáries, não foi tão demorado o
durante.
Lá fora o mundo mudara e esperava-me um dia bom, mesmo
que chovesse, haveria sol leve, quente e brilhante.
Sortudo!!!
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