quarta-feira, março 20, 2024

CNEC 67/39 - 10/10

 

 

Estávamos no Verão, mas o céu era de azul carregado e o sol nunca parecera tão distante e indiferente ao que se passa na Terra.

Pouco dormira naquela noite e quando me levantei tudo me pesava.

Estacionei o carro não muito perto, mas apesar dos meus passos arrastados, era como que puxado para aquele edifício cinzento. Nenhum cataclismo me iria impedir de lá chegar, nenhum motivo surgira para o postergar.

Reparei então na jovem à minha frente. Dir-se-ia que saltitava e quase não acreditei quando percebi que íamos para o mesmo local.

Vi como sorria à funcionária que lhe veio abrir a porta e desaparecia lá dentro.

Pouco depois fui eu que cheguei à porta e tive de entrar.

Era a minha primeira vez ali. Respondi às questões em falta para completar a minha ficha e sentei-me à espera.

Parecia impossível como lá fora a vida continuava. Ali dentro tudo parecia ter parado. Cada vez mais distante do antes, não conseguia sequer sonhar com o depois, tanto me preocupava o durante.

A funcionária veio dizer que era a minha vez e fiquei em choque. Não vira a jovem saltitante sair. Não percebia como podia ter passado por mim sem que eu reparasse nela, e sem assistir à sua saída não tivera mais alguns necessários segundos para me preparar para a minha iminente entrada.

A funcionária conduziu-me à sala, indicou-me a cadeira onde me sentei, senti o cheiro do desinfectante, vi-me rodeada de brocas e instrumentos parecidos próprios daquela sala de horror.

Veio então a Srª Drª e nela reconheci a jovem saltitante. Estava desvendado o mistério, como conseguia ela sorrir assim.

Sem queixas, nem cáries, não foi tão demorado o durante.

Lá fora o mundo mudara e esperava-me um dia bom, mesmo que chovesse, haveria sol leve, quente e brilhante.

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