Quando eu era pequena tive um objecto preferido.
Desde então, acho que não voltou a suceder-me. São
tantos, que se repetem e confundem, como os livros.
Lembro-me de já nessa altura ter pensado que no caso
de um incêndio, para mim seria fácil saber o que salvar – claro que primeiro
assente que pais, irmãs e avó, estavam fora de casa e de perigo.
Imaginava que para a minha irmã mais velha seria bem
difícil essa situação enquanto detentora nessa altura e fã fervorosa de muitos
livros. Teria de efectuar várias viagens para os salvar a todos.
Para mim seria fácil, apenas um e leve.
Só que não era um objecto, mas a Joaninha.
Recebia-a num Natal. Veio de Lisboa na mala da avó.
Fomos esperá-la à estação de Campanhã. Uma aventura, como era sempre, mas nas
chegadas, uma aventura feliz. Barulhos e cheiros diferentes, precipícios por
onde vinham os comboios, túneis que lembravam filmes em que era preciso estar
com atenção para se saber qual a saída certa.
Ela era tão perfeita que até pensei, mas não contei a
ninguém, se seria mesmo para mim, se a avó não se teria enganado e a
destinatária não seria antes a minha irmã mais nova. Não o perguntei então
(ainda ficava sem ela). Nunca o saberei.
Levava-a para todo o lado, até nas viagens a Lisboa e
a Trás-os-Montes, a casa dos avós dos dois lados. Tinha a mala dela, um pijama vermelho
e dois vestidos, um feito pela costureira com um retalho de tecido, branco com
bolinhas amarelas, o outro, que ela usava e gostava mais, feito pela minha avó,
azul e branco
Em muitas das minhas fotografias de criança, estamos
as duas.
Com ela não tinha medo do escuro ou de estar sozinha, porque com ela não o estava.
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