A carta estava pousada em cima da mesa e estava,
estranhamente, assinada por ela.
“Eu
matei o Ben.
Devo
pagar pelo que fiz.
Não
me procurem.
Lizandra”
Parecia a sua letra, mas sê-lo-ia mesmo?
Eram recentes os rumores sobre a morte de Ben. Fora
encontrado em casa caído no chão. Já tinha alguma idade e sofria do coração. No
tribunal até dispensaram a autópsia. Após breve vigília fora cremado e a vida
seguira.
Quando se soube do testamento, instalou-se o
burburinho na aldeia. Porque haveria de ter deixado tudo à viúva? Em vida fora
tão amigo dos enteados para depois não lhes deixar nada? E porquê tanta pressa tivera
ela em ver-se livre do corpo?
Ouviram-na aos gritos quando os miúdos – os dois já
adultos, mas na vila ainda os viam assim – passaram pela casa para levar umas
poucas recordações. Eram filhos da primeira mulher do Ben e ele tratava-os como
filhos. Até lhes pagou os estudos e deu um carro ao rapaz. A viúva arrumou um escarcéu,
que não podiam levar os relógios, que ali nada era deles.
Expulsou-os da casa onde tinham crescido como se
fossem uns meliantes ou pedintes. A rapariga ia a chorar, “que aquilo não se
fazia”, “que ela não tinha coração”.
E agora isto. A Lizandra desaparecida e aquela carta.
Não parecia dela. Assumira-se como dona de tudo e a todos tratava com
sobranceria.
Enquanto sargento encarregado do Posto decidiu
organizar uma busca. Mais tarde analisariam a carta. Urgente era encontrarem a mulher
e saber o que fora feito dela.
Ela veio a aparecer dias depois e teve de explicar o
que sucedera quando foi apresentar queixa. Sumira-se-lhe o orgulho quando
contou que tivera um amante. Quando decidiu terminar com ele, obrigou-a a
escrever a carta e quase a matou. Queria vingança ou justiça.
Lisandra. Eis o drama de Lisandra, que lembra os muitos personagens de A vida como ela é, e de outras histórias de Nelson Rodrigues. Uma mulher de classe média, casada, que tem “um caso” com um “malandro”, que tudo o que quer é se aproveitar da “carência afetiva” dela e, agora, Lisandra, às voltas com as investigações, tem que deixar seu "orgulho" debaixo do tapete. "A vida como ela é"
ResponderEliminarnomeada pela poeta com estilo
Muito bom, Gábi!
Um abraço,
Muito obrigada :)
Eliminarum abraço
Tem continuidade, Gábi? Gostaria de saber se o Ben morreu de morte natural ou se foi a viúva que o matou...mas sem corpo não vai ser fácil.
ResponderEliminarGostei. :)
Beijinho
So falando com a LIzandra é que iremos saber...
EliminarObrigada Janita, um beijinho
Ben me quer??
ResponderEliminarGostei de ler.
Beijinho, bfds
Completamente :)
Eliminarobrigada e um beijinho e bom fim-de-semana
Um excelente princípio para um filme policial!
ResponderEliminarDesconfio da Lizandra!
Abraço
E acho que desconfias muito bem :)
ResponderEliminarum abraço e bom fim-de-semana
Sempre textos com suspense e fins desconcertantes:)) Gostei muito!
ResponderEliminarBeijocas e um bom sábado
Muito bom!
ResponderEliminarHaverá continuação?
Abraço, saúde, bom fim de semana e um feliz outubro