quarta-feira, outubro 20, 2021

Post 8250 - CNEC 57/29 - 6/10 - Acidente doméstico

          Um homem está a cortar a barba. De repente, corta-se.

Deixa cair a lâmina e vocifera contra o acto e contra si mesmo. Gotas de sangue pingam para o lavatório e para o chão. Lava a ferida e arde-lhe. Não encontra um penso ou desinfetante, limita-se a comprimir o local até que pare de sangrar.

Ao redor ficou com uma barba ruiva. Está já atrasado para o trabalho. Engole um café e sai. Esquece-se do telemóvel, e na saída enervado com o sucedido esbarra no móvel da entrada – há anos que se irrita com a sua localização. Não apanha os bibelots e rendas lá colocados pela Sandra.

Esta acorda sobressaltada com o barulho. Chama por ele, que já saiu e não a pode ouvir.

Levanta-se e vai até à entrada de onde veio o barulho. Dá com o aparador caído, um dos bibelots (o que trouxeram da viagem a Barcelos) partido. Não se ouve nada. A casa é pequena, o silêncio diz-lhe que está sozinha. Não percebe o que se passa.

Chega à entrada da casa de banho e vê o sangue.

Assustada resolve ligar para o marido. O telemóvel dele no silêncio e no lugar esquecido onde o largou, não dá qualquer sinal de vida. Ela escuta o som da chamada, até que esta cai na gravação das mensagens de voz. Lembra-se que ele atende sempre, insiste várias vezes, sem resultado.

Deduz que às tantas é outra pessoa que tem o telemóvel. Talvez aquele ou aqueles que o tenham agredido, daí o sangue, e o tenham levado. Como é que ela não ouviu? Falhou-lhe quando precisou dela. Terá ele ocultado a sua presença para a salvar?

Não sabe o que fazer. Decide ligar para a polícia,

Então o seu telemóvel toca. Atende e é ele a ligar-lhe do emprego.

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