Aos setenta anos, cinco anos viúvo, deu-lhe para aquilo.
Já não se lembrava muito
bem de como fora com a Laura. Tinham sido muito amigos um do outro. O deles
fora um casamento feliz, em que se respeitavam e apoiavam um ao outro. No início,
bem no início, será que sentira borboletas no estômago? Talvez alguma
impaciência e insegurança enquanto não confirmava que ela sentia o mesmo.
Quando ela morrera,
sentira que morria também. Causou-lhe até confusão como tudo continuava. O céu
azul e o sol de cada manhã, as lojas abertas, os cafés e esplanadas cheios. O
que primeiro lhe doeu como indiferença depois reconfortou-o. A vida era uma
passagem. Quando ele morresse seria o mesmo. Continuariam a existir crianças e
apaixonados, famílias e abraços. Ainda bem que assim era. O contrário, se fosse
o último homem da Terra, se ninguém mais viesse a pensar e a sentir o que
iluminara os seus dias, é que tornaria a sua morte terrível e insuportável.
À medida que o tempo
passava, pesou-lhe a solidão. Viu-se ainda saudável e enxuto. Talvez ainda
pudesse encontrar alguém. Uma companheira.
Primeiro começou a ver os
anúncios no jornal. Depois colocou um:
“Senhor de setenta anos, saudável
e independente, procura senhora da mesma idade e condições para casar. Assunto
sério.”
Deixou a indicação de
endereço numa caixa postal.
Não sabia se iria ter alguma
resposta. Quando foi ver espantou-se com o número de cartas.
Entreteve-se depois a selecionar
duas. Sentiu-se um pouco infiel por iniciar correspondência com as duas. Marcou
encontros. A primeira era muito frágil. A segunda era uma miúda com quarenta ou
cinquenta anos. Viu-se a trazê-la para casa, a apresentá‑la aos amigos. Até que
ela começou com pedidos de empréstimo.
Voltou a colocar o
anúncio. Talvez a terceira fosse a certa.
Cavalheiro com estigmatismo procura senhora com miopia para troca de pontos de vista :))))
ResponderEliminarBeijinho
:) Gostei desse anúncio :)
Eliminarum beijinho
70 anos saudáveis, enxutos e com a cabeça a funcionar lindamente. Empréstimos? Olha-m'esta! Deve estar a achar que sou o Pde Américo :-)
ResponderEliminarBom dia
:) talvez com a terceira tenha encontrado uma alma gémea :)
EliminarBom dia :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTive de rir:))) a dos empréstimos vai lá vai!!!
ResponderEliminarTenho 70 anos e divorciada (ao invés do que diz a minha mãe que sou viúva porque ele já morreu) não digo que não gostaria de ter alguém ao meu lado quanto mais não seja para arranjar uma lâmpada mas procurar por anúncios, concursos e outras coisas tais não é de todo a minha praia. Nunca deixei de viver e não sinto solidão porque o que tiver que acontecer...acontecerá.
Gostei imenso desta tua narrativa
Beijocas e um bom dia
Acho que podemos estar sempre a tempo, afinal a Isabel Allende encontrou um novo amor aos 75 anos e o importante é estarmos bem
ResponderEliminarobrigada Fatyly
um grande beijinho e um bom dia