quarta-feira, maio 12, 2021

Post 8065 - Até à meia-noite, qual envio para Concurso de Escrita?

 A)

 

Noite cerrada, perto do Cemitério da aldeia, encontram-se, e mal se conseguem ver.

- Esperava-a, mesmo não sabendo se viria…

- Foi você?

- Como fui eu?

- E claro que tinha de vir, tenho de saber!

- Mas que quer que lhe diga? Que só penso em si desde que nos conhecemos? Que vivo para estes momentos? Que se me sorri na rua, ganho o dia e se a vejo triste, não o suporto?

- Foi você então…mas eu não lhe pedi nada!

- De que me acusa? De tudo fazer para a ver feliz?

- Sabe bem do que se trata, não sei como o pôde fazer, eu não lhe pedi, eu mal o conheço,

- Pois eu, desde a primeira vez que a vi, senti que já a conhecia, de outras vidas, quiçá, desde sempre, que poderemos ser tudo um para o outro, se o quiser Clarinha

- Mas largue-me, não me trate pelo nome, o que vão pensar? Eu sou uma mulher séria, nem devia estar aqui,

- O que fiz, fi-lo por si, não tenho medo, nem vergonha de o dizer, e di-lo-ei a todos!

- Fale baixo, alguém pode ouvi-lo e perde-nos aos dois

- Diga-me, que não lhe sou indiferente, que quis transmitir-me a dor que sentia para que eu a libertasse,

- Não assim, não assim!

- Graças a mim, nunca mais terá de sofrer às mãos desse homem que não a respeitava, nem a merecia,

- Olhe, vou ter de ir agora

- Posso esperá-la amanhã, aqui, à mesma hora?

- Não sei,

- Não queria preocupá-la, mas parece que uma sua conhecida andou a falar de si à polícia…

- Como diz?

- Posso esperá-la então aqui?

- Sim, pode

- Até amanhã

- Até amanhã.


B)

Vieram dizer-lhe que a rapariga queria falar com uma agente, uma mulher polícia. Resolveu despachar logo aquilo. Talvez fosse uma queixa do namorado. Hoje em dia começam cada vez mais cedo, com os namoros e com os maus-tratos.

Ela aguardava-a num canto da sala de espera, magra e tolhida, vestia de preto, mas com um vestido de corte antigo e puído. Pareceu-lhe de repente que saíra de um dos retratos na sala da sua tia avó, onde os antepassados esquecidos a vigiavam das suas molduras quadradas sobre os naprons bordados.

Fez-lhe um sinal e a miúda seguia-a para um gabinete, onde teriam mais privacidade e silêncio.

- Então, o que me quer contar?

Ela ficou em silêncio como que a procurar as palavras. Era muito jovem, adolescente ainda, sem pintura e comum. O que a destacava era a diferença no modo como se vestia e apresentava.

- Há um homem que me vai matar

- Como?!

- Sonho com ele,

- Ah, sonha com ele, e quem é?

- Não o conheço, ainda não o encontrei, mas sei que me vai matar.

Pareceu-lhe evidente tratar-se de um caso para psiquiatria.

- Olhe, escreva neste papel o que sabe e já volto.

Saiu para ligar para o Hospital, mas quando regressou a sala estava vazia. Deixara o papel onde desenhara um homem de meia idade e bigode,

Não voltou a vê-la. Meses depois passou-lhe pelas mãos um caixote com casos antigos, para ser incinerado. O tempo e a humidade tinham destruído uma das bordas de cartão e de lá caíram algumas folhas. Entre elas um recorte de jornal com fotografias dos dois. No início do século ele fora absolvido do homicídio dela. Acusavam-no de a ter estrangulado após a raptar do parque, mas depois em julgamento nada se provara.


C) 

Escrever outro


 

 


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