A)
Noite
cerrada, perto do Cemitério da aldeia, encontram-se, e mal se conseguem ver.
-
Esperava-a, mesmo não sabendo se viria…
-
Foi você?
-
Como fui eu?
-
E claro que tinha de vir, tenho de saber!
-
Mas que quer que lhe diga? Que só penso em si desde que nos conhecemos? Que vivo
para estes momentos? Que se me sorri na rua, ganho o dia e se a vejo triste,
não o suporto?
-
Foi você então…mas eu não lhe pedi nada!
-
De que me acusa? De tudo fazer para a ver feliz?
-
Sabe bem do que se trata, não sei como o pôde fazer, eu não lhe pedi, eu mal o
conheço,
-
Pois eu, desde a primeira vez que a vi, senti que já a conhecia, de outras
vidas, quiçá, desde sempre, que poderemos ser tudo um para o outro, se o quiser
Clarinha
-
Mas largue-me, não me trate pelo nome, o que vão pensar? Eu sou uma mulher
séria, nem devia estar aqui,
-
O que fiz, fi-lo por si, não tenho medo, nem vergonha de o dizer, e di-lo-ei a
todos!
-
Fale baixo, alguém pode ouvi-lo e perde-nos aos dois
-
Diga-me, que não lhe sou indiferente, que quis transmitir-me a dor que sentia
para que eu a libertasse,
-
Não assim, não assim!
-
Graças a mim, nunca mais terá de sofrer às mãos desse homem que não a
respeitava, nem a merecia,
-
Olhe, vou ter de ir agora
-
Posso esperá-la amanhã, aqui, à mesma hora?
-
Não sei,
-
Não queria preocupá-la, mas parece que uma sua conhecida andou a falar de si à
polícia…
-
Como diz?
-
Posso esperá-la então aqui?
-
Sim, pode
-
Até amanhã
-
Até amanhã.
B)
Vieram
dizer-lhe que a rapariga queria falar com uma agente, uma mulher polícia.
Resolveu despachar logo aquilo. Talvez fosse uma queixa do namorado. Hoje em
dia começam cada vez mais cedo, com os namoros e com os maus-tratos.
Ela
aguardava-a num canto da sala de espera, magra e tolhida, vestia de preto, mas
com um vestido de corte antigo e puído. Pareceu-lhe de repente que saíra de um
dos retratos na sala da sua tia avó, onde os antepassados esquecidos a vigiavam
das suas molduras quadradas sobre os naprons bordados.
Fez-lhe
um sinal e a miúda seguia-a para um gabinete, onde teriam mais privacidade e
silêncio.
-
Então, o que me quer contar?
Ela
ficou em silêncio como que a procurar as palavras. Era muito jovem, adolescente
ainda, sem pintura e comum. O que a destacava era a diferença no modo como se
vestia e apresentava.
-
Há um homem que me vai matar
-
Como?!
-
Sonho com ele,
-
Ah, sonha com ele, e quem é?
-
Não o conheço, ainda não o encontrei, mas sei que me vai matar.
Pareceu-lhe
evidente tratar-se de um caso para psiquiatria.
-
Olhe, escreva neste papel o que sabe e já volto.
Saiu
para ligar para o Hospital, mas quando regressou a sala estava vazia. Deixara o
papel onde desenhara um homem de meia idade e bigode,
Não
voltou a vê-la. Meses depois passou-lhe pelas mãos um caixote com casos
antigos, para ser incinerado. O tempo e a humidade tinham destruído uma das
bordas de cartão e de lá caíram algumas folhas. Entre elas um recorte de jornal
com fotografias dos dois. No início do século ele fora absolvido do homicídio
dela. Acusavam-no de a ter estrangulado após a raptar do parque, mas depois em
julgamento nada se provara.
C)
Escrever outro
Gosto mais do segundo, texto B)
ResponderEliminarUm beijinho e boa escolha.
Também gosto mais, vou enviar o segundo
ResponderEliminarObrigada :)
um beijinho
Também gostei mais do 2.º texto.
ResponderEliminar.
Abraço virtual
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Obrigada Ricardo
Eliminarum abraço virtual também
Ambos bons, mas o toque de sobrenatural do segundo leva a melhor. :)
ResponderEliminarObrigada Luísa, foi o que enviei :)
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