Luz, sombra
O que aconteceu, como foi possível?
Não quero pensar no antes.
É horrível acordar no meio da noite. Parece que
sufoco. Lembro-me, e naquela altura ainda não construi qualquer defesa. A
escuridão não me esconde, pesa-me. Passei por vários anti-depressivos que me
faziam dormir. Sono sem sonhos, do qual não queria acordar. Despertava e estava
ali, apunhalava-me, a minha nova realidade. Nunca fui de beber, mas procurei
embriagar-me. Não resultou. Tenho um vinho triste. Afundava-me na auto-piedade,
enojava-me de mim mesma, acordava com a ressaca.
Não quero pensar. Não quero lembrar-me que já fui
outra.
Houve um Luís. Posso ver as fotografias, vou
esquecendo a sua voz. Amante, amigo, mais que tudo. Íamos comprar uma casa, ter
filhos e envelhecer juntos, a vida entrelaçada, nós. Houve um nós. Fui feliz
nos dias que se sucediam, intensos e luminosos. Não pensava nisso então, vivia.
Tinha, não, tínhamos, muitos planos
Ele preocupava-se comigo, como quando eu ficava
sozinha nas noites em que ele trabalhava longe. Comprou-me uma arma, ensinou-me
a atirar. Riu-se da minha falta de habilidade.
Não quero pensar. Não quero lembrar-me.
Mas não consigo nunca esquecer.
Acordei em sobressalto com um barulho que juraria vir
da sala. Podia ter falado alguma coisa.
Podia ter fugido, ou ligado para a Polícia, mas fui buscar a arma. O coração aos
pulos, pé ante pé fui para a sala. Vi um vulto – não havia luz, porque é que
não a ligou? – e disparei.
Houve um Luís. Houve um nós.
Se o nosso presidente do Brasil ler esse conto vai desarmar a esposinha querida.....kkkkkkkk
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