Faltavam dois dias para o Natal quando o marido anunciou: “Convidei um
colega para a ceia”.
Casados há doze anos era em casa deles que faziam a festa, com os pais de
ambos, sem crianças. Queriam filhos, mas não conseguia engravidar e a esperança
ia diminuindo.
Divagara para algo que a entristecia, quando algo recente a incomodava. É
que nem sequer lhe perguntou antes. Não. Comunicou‑lhe. E quem era? Não teria
com quem estar?
Durante o dia foi mastigando o sucedido. Quando ele voltou do trabalho discutiram.
Ele acabou por dar-lhe razão, mas não ia agora dizer ao rapaz que ficara sem
efeito. Estava longe da família, convidou-o para que não passasse o Natal
sozinho.
E o Manuel veio. Os mais-velhos gostaram dele. Ouvia com atenção o que lhe
diziam. Ajudou a servir e a lavar os pratos.
No final do jantar apareceu com prendas. Uma garrafa de vinho para o
marido, postais antigos para os mais velhos. Para ela, nada. Sentiu‑se como uma
criança, entusiasmada, depois decepcionada.
Nas despedidas, o Manuel falou baixinho para ela “no próximo Natal vai
estar aqui uma criança”.
Pensou depois se teria ouvido bem, ou se estaria com uma alucinação auditiva,
quiçá pelo vinho do Porto. Algo lhe dizia, todavia, que poderia ser essa a sua
prenda. Não queria alimentar a esperança, mas depois confirmou-se, estava
grávida.
Não podia haver nenhuma relação, mas perguntou ao marido:
- O teu colega, como vai?
- Qual?
- O Manuel.
- Despediu-se, mudou-se e o número que deixou foi cancelado. Era bom tipo,
mas diferente.
Ela lembrou-se do verso “o mundo for o espaço onde cabe um só abraço.”
Nos Natais seguintes, além do seu filho, passaram a ter mais alguém. Passou
a fazer parte da celebração convidarem um estranho que estivesse sozinho, para
cear com eles.
Vou transcrever para aqui o poema Natal de António Sérgio (aprendi-o de cor para o declamar na festa de Natal da 4ª classe/4º ano)
bella poesia e racconto.
ResponderEliminarGostei muito de ler. Afinal existe sempre algo de bom no desconhecido
ResponderEliminar.
Deixando votos de um SANTO E FELIZ NATAL,
extensivo a toda a sua família e amigos/as.
Super... simplesmente fantástico!!:)))
ResponderEliminarQue todos tenhamos a noção de que o perigo nos prossegue e espreita em cada esquina. Feliz Natal
.
É OUTRA VEZ NATAL...
.
Beijos festivos
Muito bonito o Conto, Gábi.
ResponderEliminarE o menino que o conviva misterioso anunciou, chamaram-lhe Manuel?
Um beijinho e Bom Natal.
Talvez...ou Emanuel
Eliminarum beijinho, obrigada e Bom Natal também Janita
Desejamos um Bom Natal 2020 com saúde
ResponderEliminarE uma entrada em 2021 com pezinhos de lâ:-)
Paula e Rui