terça-feira, dezembro 15, 2020

Desafio de Escrita CEC 52/24 - 4/10 - André

 André levantou-se do sofá e agarrou-se à mesa que estava ao lado. A visão estreitava-se e escurecia, à boca veio-lhe o amargo da bílis, um suor frio escorreu-lhe pelas costas. Tremeu, pensou que iria desmaiar, mas aguentou-se, agarrado à mesa.

Os segundos pesaram-lhe, mas a tontura passou.

Olhou em redor. Magda tinha saído talvez por meia hora. Tinha de procurar ajuda.

Em passos hesitantes conseguiu chegar até à janela. Abriu-a e o ar frio do Inverno invadiu a sala. Estranhamente ajudou-o. Pareceu-lhe que respirava melhor. Debruçou‑se. Muito lá em baixo quais formigas moviam-se pessoas, demasiado longe para o ouvirem se gritasse.

Dirigiu-se para a porta no lado oposto, ainda trémulo, mas a ganhar mais segurança em cada passo. Experimentou a maçaneta e ela moveu-se. Atravessou o corredor estreito e também a porta exterior lhe obedeceu, no preciso momento em que chegava o casal que morava em frente. Os dois de máscara, estacaram a olhar para ele. Veriam um homem de meia idade de pijama, despenteado e barbudo, de ar doente. Pareceram assustados.

- Não estão a entender, a minha mulher quer matar-me! Sem o poder evitar tossiu.

O homem precipitou-se a abrir a porta da sua casa e em gestos rápidos puxou a mulher. Em pânico, sem nada lhe responderem, entraram e fecharam a porta.

Porque estariam de máscara?

Nesse momento a porta do elevador abriu-se, com um saco e compras de lá saiu a Magda e também vinha com uma máscara.

- Mas que fazes aqui? Assim ainda pioras. Lá para dentro, vá.

Ainda se sentia fraco para a empurrar e por isso recuou, de volta para a casa.

Amanhã tentaria de novo a fuga. Agora só tinha de fingir acreditar que convalescia de pandemia, e que não estava ser envenenado, mas paranoico.

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