O meu erro foi não ter percebido
a tempo.
Devo ter morrido. Não
sinto nenhuma dor, não sinto o meu corpo.
A minha última memória
foi a da arma nas suas mãos. Acho que consegui até ver o tiro, ouvi-o sem
dúvida, e senti depois a bala como uma pancada. Então, não vi a minha vida
inteira, pensei apenas como era possível ter-me enganado tanto sobre alguém.
Será talvez melhor
começar pelo início. Após o serviço militar passei a prestar serviços para o
meu tio Júlio, detective particular. Ensinou-me tudo e deixou-me o seu
escritório quando se reformou. Ao contrário do que se poderia pensar era uma
vida pacata. Normalmente procuravam-me para investigar o crédito de terceiros com
quem os clientes pretendiam celebrar contratos. Ocasionalmente era contactado
por homens ou mulheres que se achavam enganados e quase sempre eram-no
realmente.
Quando João me procurou
no escritório foi um encontro impactante. A sua beleza e ingenuidade
seduziram-me. Concordei com tudo o que propôs. No dia seguinte mudei‑me para
sua casa e iniciei a investigação. João disse-me que estava em perigo por uma
herança cobiçada pelos primos. Sentia-me como se tivesse entrado num livro, mas
não um policial e sim um romance.
Um dos primos teve um
acidente na garagem, desmaiou quando ia abrir a porta com o carro a trabalhar.
Quando o descobriram ainda estava vivo, mas ficou em coma. Um outro foi picado
por uma vespa e era alérgico. Teve morte imediata. Havia um terceiro que
desaparecera há anos e corria o processo para a morte presumida.
João queria que
libertasse o primeiro do seu sofrimento. Só teria que ir ao Hospital e pôr um
fim ao seu corpo, porque o seu espírito já o tinha deixado.
A sua insistência fez‑me
suspeitar, mas quando recusei foi tarde demais para mim…
Libertar alguém do sofrimento fez-me recordar Million Dollar Baby.
ResponderEliminarBeijinho
Aqui parece-me que a intenção seria outra...
Eliminarum beijinho
Gostei de ler. Achei muito triste, para mim!:/
ResponderEliminar-
Não, não me troques por ninguém
-
Beijo, e dia feliz!
Não queria que o fosse, sorry...talvez dê para pensarmos que quem conta a história, mesmo que esteja morto, pensa, por isso não foi o seu fim
Eliminarum beijinho, obrigada e uma boa noite
Esta situação fez-me lembrar o fantástico livro de Machado de Assis: Memórias póstumas de Brás Cubas.
ResponderEliminarUm beijinho
M.