quinta-feira, agosto 27, 2020

Post 7679 - Desafio de Escrita - CNEC 22/50 - 6/10 - O meu erro foi




O meu erro foi não ter percebido a tempo.
Devo ter morrido. Não sinto nenhuma dor, não sinto o meu corpo.
A minha última memória foi a da arma nas suas mãos. Acho que consegui até ver o tiro, ouvi-o sem dúvida, e senti depois a bala como uma pancada. Então, não vi a minha vida inteira, pensei apenas como era possível ter-me enganado tanto sobre alguém.
Será talvez melhor começar pelo início. Após o serviço militar passei a prestar serviços para o meu tio Júlio, detective particular. Ensinou-me tudo e deixou-me o seu escritório quando se reformou. Ao contrário do que se poderia pensar era uma vida pacata. Normalmente procuravam-me para investigar o crédito de terceiros com quem os clientes pretendiam celebrar contratos. Ocasionalmente era contactado por homens ou mulheres que se achavam enganados e quase sempre eram-no realmente.
Quando João me procurou no escritório foi um encontro impactante. A sua beleza e ingenuidade seduziram-me. Concordei com tudo o que propôs. No dia seguinte mudei‑me para sua casa e iniciei a investigação. João disse-me que estava em perigo por uma herança cobiçada pelos primos. Sentia-me como se tivesse entrado num livro, mas não um policial e sim um romance.
Um dos primos teve um acidente na garagem, desmaiou quando ia abrir a porta com o carro a trabalhar. Quando o descobriram ainda estava vivo, mas ficou em coma. Um outro foi picado por uma vespa e era alérgico. Teve morte imediata. Havia um terceiro que desaparecera há anos e corria o processo para a morte presumida.
João queria que libertasse o primeiro do seu sofrimento. Só teria que ir ao Hospital e pôr um fim ao seu corpo, porque o seu espírito já o tinha deixado.
A sua insistência fez‑me suspeitar, mas quando recusei foi tarde demais para mim…

5 comentários:

  1. Libertar alguém do sofrimento fez-me recordar Million Dollar Baby.
    Beijinho

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    1. Aqui parece-me que a intenção seria outra...
      um beijinho

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  2. Gostei de ler. Achei muito triste, para mim!:/
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    Não, não me troques por ninguém
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    Beijo, e dia feliz!

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    1. Não queria que o fosse, sorry...talvez dê para pensarmos que quem conta a história, mesmo que esteja morto, pensa, por isso não foi o seu fim
      um beijinho, obrigada e uma boa noite

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  3. Esta situação fez-me lembrar o fantástico livro de Machado de Assis: Memórias póstumas de Brás Cubas.
    Um beijinho
    M.

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