Chove
Não precisaria de me
aproximar da janela para o saber.
Ouço a chuva e os
respingos da água quando os carros passam.
Estar perto de uma poça na
passagem de uma viatura destas, acelerada e indiferente, pode deixar-nos encharcados.
Olho pela janela. Vejo o
céu cinzento e claro, e as gotas de água pesadas e verticais porque não há vento.
Um gato branco pula de um muro,
atravessa a rua e encontra abrigo do outro lado, por baixo de um arbusto.
Já o vi antes, ao longe.
Terá adoptado este bairro, mas mantém-se sempre distante.
A chuva iluminou as
cores, deixou o verde mais verde, e o azul e rosa das flores de alguns quintais
mais vivos e brilhantes.
Se fosse lá para fora
sentiria o cheio da terra e da erva molhadas.
Há algo de estranho que
só reparo por me manter a olhar. No 2º andar do prédio em frente não vejo à
janela a viúva. Costuma estar sempre lá, o cortinado desviado a anunciar a sua
presença.
Reparo então que se abre
a porta do prédio e é ela.
E a ela se dirige o gato
branco. Nunca antes o vi tão perto de ninguém.
Ela trouxe-lhe algo de
comer que coloca à frente dele como uma oferenda. Não o tenta prender ou atrair
para mais perto. Percebo a confiança entre os dois e o respeito dela pela
liberdade do gato silvestre.
Vejo chegar o carro do
meu namorado e não vejo mais nada. Vou para a rua ter com ele. Os dois lá fora à
chuva no quadro que se vê da janela.
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