quinta-feira, junho 18, 2020

Post 7579 - Desafio de Escrita CNEC 49/21 - 6/10 - Chove


Chove

Não precisaria de me aproximar da janela para o saber.
Ouço a chuva e os respingos da água quando os carros passam.
Estar perto de uma poça na passagem de uma viatura destas, acelerada e indiferente, pode deixar-nos encharcados.
Olho pela janela. Vejo o céu cinzento e claro, e as gotas de água pesadas e verticais porque não há vento.  Um gato branco pula de um muro, atravessa a rua e encontra abrigo do outro lado, por baixo de um arbusto.
Já o vi antes, ao longe. Terá adoptado este bairro, mas mantém-se sempre distante.
A chuva iluminou as cores, deixou o verde mais verde, e o azul e rosa das flores de alguns quintais mais vivos e brilhantes.
Se fosse lá para fora sentiria o cheio da terra e da erva molhadas.

Há algo de estranho que só reparo por me manter a olhar. No 2º andar do prédio em frente não vejo à janela a viúva. Costuma estar sempre lá, o cortinado desviado a anunciar a sua presença.

Reparo então que se abre a porta do prédio e é ela.
E a ela se dirige o gato branco. Nunca antes o vi tão perto de ninguém.
Ela trouxe-lhe algo de comer que coloca à frente dele como uma oferenda. Não o tenta prender ou atrair para mais perto. Percebo a confiança entre os dois e o respeito dela pela liberdade do gato silvestre.

Vejo chegar o carro do meu namorado e não vejo mais nada. Vou para a rua ter com ele. Os dois lá fora à chuva no quadro que se vê da janela.


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