- Já chegamos, já
chegamos?
- Ainda não, mas não
perguntaram ainda há pouco? Respondia pacientemente a minha mãe.
Olho pela janela. Sabia
que ainda não tínhamos chegado, que faltava ainda muito, tanto! Uma das minhas
irmãs dormia, a outra também parecia que ia adormecer, mas eu permanecia acordada
(ao meu lado, a minha boneca Joaninha, que levava para todo o lado, e tinha
inclusive uma pequena mala improvisada, com um pijama e dois vestidos: um azul
feito pela minha avó e um com bolinhas amarelas, feito pela costureira de um
retalho de tecido). Pela janela do lado direito via ora a estrada, ora os
carros com que nos cruzávamos, pela do lado esquerdo, árvores, erva, monte. A
paisagem ia mudando. Primeiro, muitos edifícios, depois só algumas casas,
árvores altas e verdes, depois também rareavam as árvores, via mais erva e
monte, espaçadas as oliveiras, e restos de incêndios, chagas castanhas e
despidas no meio dos montes.
Os meus pais pareciam
concentrados na viagem, o meu pai na condução, a minha mãe em mil e uma coisas
para que tudo corresse bem.
Mais perto, sentíamos o
cheiro das estevas – não havia ar condicionado, pelas janelas entreabertas
entrava calor.
Sabia que quando
chegássemos à aldeia, iria reencontrar os meus avós, alguns primos e primas que
não reconhecia, e o meu pai iria rejuvenescer no papel de filho.
Por lá estava também a
burrinha, que a minha irmã mais nova iria querer logo ver, os biscoitos em
argola, o pão de trigo, a lareira, o chão da casa com tabuas compridas e não
muito direitas, o silêncio à noite, e o cantar do galo de madrugada.
Queria hoje poder fazer
essa viagem, o durante, enquanto não chegamos e o depois, vivo-o nas recordações.
Uma bonita participação que gostei de ler.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana
Que bonita a viagem na memória :)
ResponderEliminarQue delícia viajar através de tão preciosas recordações... fizeste-me também voltar à infância, recordando as minhas férias de Verão...
ResponderEliminarBeijinhos
Ana