Quando vi que eras tu, fiz de conta que
não te via.
Eras-me ao mesmo tempo estranha e
familiar.
Lembravas-me de mim mesma, uma versão
minha inexpressiva e envelhecida.
Ao longo dos anos, tenho evitado pensar em
ti. Talvez por isso pensei que não te temia.
Pensei que te daria as boas-vindas, mas
fui cobarde. Nada de repousar eternamente, quando contemplei ao invés, o nada.
Ainda não, queria dizer-te, ainda não.
Pensei que recusaria tratamentos e
cirurgias, que não os suportaria para ganhar mais alguns momentos.
Enganei-me.
Consegui que recuasses, sabendo que
voltarás.
O que faço agora quando não posso mais
enganar-me?
Ainda viva, mas apodrecida, não sou nada,
não fiz nada, de mim nada restará e arrasto‑me, morta-viva e derrotada, até que
regresses.
Não há como evitar o passar do tempo... um dia teremos que nos enfrentar, com a nossa versão mais envelhecida... e aceitá-la... é a melhor forma, de não a acharmos tão má quanto isso... e com o espírito mais leve... certamente ainda nos restará alguns interesses... e algo que ainda possamos fazer...
ResponderEliminarMais um belíssimo texto, que nos deixa a reflectir! Beijinhos
Ana