Abri a persiana e
procurei-o.
Tinha reparado nele, a primeira vez, por acaso. Como a rua do meu lado
estava cheia, fui estacionar o carro do outro lado e à frente. Pelo espelho
retrovisor vi então aquele mercedes antigo, amarelo e bem conservado, com o
emblema à frente orgulhosamente destacado.
Interroguei-me sobre a quem pertenceria. Naquela rua de prédios novos, a
maior parte dos vizinhos, se não todos, eram relativamente jovens, com pequenos
carros utilitários e preocupados com a hipoteca das casas. Não via nenhum deles
a comprar aquele carro, em vez dum Fiat ou dum Opel, que por ali abundavam.
Talvez em segunda mão. Ou uma herança.
Decidi nessa altura, quase subconscientemente, que ficaria atento, para
descobrir a quem pertencia. No entanto, os dias iam passando e o carro continuava
parado. À frente do prédio, via-o pela janela. Até que uma certa noite,
apercebi-me que traçando o paralelo com a fachada do prédio à frente, estava um
pouco mais de um metro à frente do sítio da noite anterior. Durante a noite
alguém devia estar a sair com o Mercedes. Regressava depois para o estacionar
no mesmo sítio ou próximo.
Nessa noite decidi deitar-me mais tarde e bebi um café.
Até à uma da manhã, nada. Apesar do café, comecei a sentir sono. Por uns
segundos, ou assim me pareceu, fechei os olhos. Foi então que escutei o barulho
do motor. Voei até à janela: uma mulher lindíssima estava ao volante…estremeci
e percebi que adormecera, mas ouvia de verdade o motor. Levantei-me e fui até à
janela.
Era o Mercedes, e estava a chegar. O
condutor saiu do carro. Era um homem careca e baixinho.
Reconheci-o. Era o empreiteiro, pai do vizinho do quarto andar. Nada
parecido com a deusa do meu sonho.
Alguns mistérios não devem ser desvendados…
Muito interessante.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana
Obrigada Elvira :)
ResponderEliminarum abraço