E eu que não gosto de
filas. Nunca pensei que no “Depois” também houvesse uma fila…e uma fila que não
anda!
À minha frente um senhor
encasacado e com ar infeliz não parece aborrecido com o atraso, desconfio que
saberá para onde vai e a ideia não o seduz. O Inferno será demasiado quente ou demasiado
gelado.
E à nossa frente dez
freiras pacientes, que às vezes até cantam hinos. Quando se preparam para
iniciar nova cantoria, peço desculpa e resolvo descobrir porque é que a fila
não anda. Vou-me desculpando à medida que avanço. Mais encasacados infelizes e
freiras pacientes e a liderar a nossa fila um homem com um bigode pequeno que
creio reconhecer…mas, não pode ser! Afinal não deveria ter morrido antes mesmo
de eu nascer? Será um clone dele? Não, parece que é o verdadeiro. Conseguiu
permanecer escondido, mas foi descoberto e teve de se juntar à fila. Há duas
portas, mas não o querem aceitar. À frente de cada porta, um senhor barbudo e
de vestido, e um encasacado vermelhusco com chifres. Dirijo-me a eles: “Meus senhores, a fila tem de andar!” Olham‑me
com severidade. Com esta iniciativa ainda vou é estragar as minhas hipóteses de
encontrar guarida na primeira porta.
- “Se é mesmo ele, se há
um depois, se há um sentido para o que sofremos e um reencontro, talvez seja
possível o perdão. Eu não sou ninguém para perdoar, mas talvez possam perguntar
aos que ele matou e estão lá dentro?”
As duas figuras escutaram
o que eu disse. Retiram-se e fecham as portas, mas só por segundos. Quando
regressam, dizem que lhe vão permitir a entrada e como os demais ele poderá
escolher. Hitler não hesita e escolhe a Porta do Inferno.
Eu regresso ao meu lugar
na fila, penso na escolha que ele fez e na que espero poder fazer quando chegar
a minha vez.
Gostei do seu texto Dona Redonda
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