domingo, agosto 11, 2019

Post 7169 - Desafio de Escrita 3/10 Doar




Há dias passei perto do Hospital S. João e lembrei-me da primeira vez que doei sangue.
Com receio, mas com vontade de ajudar, respondi ao questionário (nunca fui a África, mas o meu homem foi…não tive outro, espero que ele também não…) e fui à breve consulta com a Médica que me pesou e picou o dedo. Segui para a sala. Não olhei quando a Enfermeira me espetou a agulha no braço.
No final, do alto dos meus trinta anos, deu‑me um piripaque ou badagaio e quase caía para o lado. Que vergonha, e numa sala cheia!
Indicaram-me o bar.
Não sabia e passei a partilhar que quando doamos sangue ganhamos direito a um lanche!
Enquanto recuperava com uma 7up e meio croissant, uma senhora que também teria estado a doar veio falar comigo. Fisicamente frágil veio perguntar‑me como estava. Admirei-a pela sua força, e ela respondeu-me que até há algum tempo não o era. Tinha casado com vinte anos, há mais de trinta, e forte foi sempre o marido. Ele doava sangue, era voluntário da bata amarelo –  ajudava os pacientes e visitantes.
Até que um dia, ali perto, tiveram um acidente de carro. Ela nem um arranhão, mas ele ficou mal. Um Enfermeiro que o conhecia chegou ao local, e quis dar-lhe ânimo: “vamos já trazer uma maca”. Ele apertou a mão dela, a forma de lhe dizer que a amava, mas também uma despedida, e sério, porque foi sempre corajoso e verdadeiro, respondeu “não vale a pena” e morreu.
Primeiro sentiu-se perdida, depois descobriu em si a força para continuar e ali, sentia-se mais próxima dele.
Não a voltei a ver. Perguntei por ela e só uma vez alguém disse que a conhecia, mas deve ter feito confusão porque me disse que no acidente tinham morrido os dois.

6 comentários:

  1. Queres dizer-nos que conversas-te com um fantasma?
    É uma história fantástica. Dá que pensar.

    ResponderEliminar
  2. Como um pequeno conto... pode ter tanto para contar!...
    Belo trabalho, Gábi! Adorei do princípio ao fim! Parabéns!
    Beijinho
    Ana

    ResponderEliminar