sexta-feira, março 08, 2019

Post 7018 - Desafio de Escrita 4/10 - A separação



Foi depois de sair de casa que apresentou queixa.
Na acusação entretanto deduzida imputava-se ao arguido:
- Não aceitava a separação, clamava que nunca lhe daria o divórcio, e que se ela não era dele não seria de mais ninguém!
- Ligava-lhe várias vezes por dia, ia até ao prédio onde ela passara a morar e tocava à campainha de noite.
- Na rua, pela janela, ela viu-o a ameaçá-la com gestos, com o indicador tocou na própria garganta e fez um movimento horizontal como se a cortasse com uma navalha;
O arguido escutava sem parecer ouvir. Em tudo, parecia comum, um homem magro e baixinho com quem poderíamos cruzar-nos na rua.
Não quis prestar declarações.
Entrou a ofendida. Advertida da faculdade de poder recusar-se a prestar depoimento, foi o que fez, “porque ele finalmente aceitou que se divorciassem” . A testemunha seguinte, o filho do casal, também não quis falar.
Não havia mais testemunhas ou outros meios de prova. Nas Alegações, o Ministério Publico e o Defensor pediram justiça.
Nesse momento levantou-se um senhor de idade. Estivera sentado ao fundo a assistir e parecia bem zangado. É o pai da ofendida, alguém segredou. Quereria insultar o ainda genro e só se lembrou de apontar para ele, clamando: “ele é um homem sexual!”.
O Juiz mandou-o sair e deu a última palavra ao arguido que se levantou muito sério para declarar primeiro que não o era e depois que estava arrependido.
- Mas está arrependido de quê, inquiriu o Magistrado perplexo porque o arguido não confessara e não havia prova.
- “Daquilo que o Sr. Juiz der como provado” esclareceu o arguido.
Uma semana depois foi lida a sentença e no jornal local foi noticiado como mais uma vez a justiça falhara, absolvendo do crime de violência doméstica perigoso agressor.


2 comentários:

  1. Tão mais infeliz quanto comprovadamente, parece que casos semelhantes se sucedem uns após outros, na vida real, aquém e além de ensaios de escrita criativa, como creio seja o caso deste teu texto, minha amiga, Gabi.
    De qualquer modo parabéns pela partilha, que eu gostaria algum dia a civilização humana olha-se historicamente para trás e perplexa se perguntasse: mas isto era irracionalmente assim?!
    Beijo
    VB

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  2. obrigada :) e seria bom se casos assim ficassem no passado
    um beijinho

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