Foi depois de sair de
casa que apresentou queixa.
Na acusação entretanto
deduzida imputava-se ao arguido:
- Não aceitava a
separação, clamava que nunca lhe daria o divórcio, e que se ela não era dele
não seria de mais ninguém!
- Ligava-lhe várias
vezes por dia, ia até ao prédio onde ela passara a morar e tocava à campainha
de noite.
- Na rua, pela janela,
ela viu-o a ameaçá-la com gestos, com o indicador tocou na própria garganta e
fez um movimento horizontal como se a cortasse com uma navalha;
O arguido escutava sem
parecer ouvir. Em tudo, parecia comum, um homem magro e baixinho com quem
poderíamos cruzar-nos na rua.
Não quis prestar
declarações.
Entrou a ofendida.
Advertida da faculdade de poder recusar-se a prestar depoimento, foi o que fez,
“porque ele finalmente aceitou que se divorciassem” . A testemunha seguinte, o
filho do casal, também não quis falar.
Não havia mais
testemunhas ou outros meios de prova. Nas Alegações, o Ministério Publico e o
Defensor pediram justiça.
Nesse momento
levantou-se um senhor de idade. Estivera sentado ao fundo a assistir e parecia
bem zangado. É o pai da ofendida, alguém segredou. Quereria insultar o ainda
genro e só se lembrou de apontar para ele, clamando: “ele é um homem sexual!”.
O Juiz mandou-o sair e
deu a última palavra ao arguido que se levantou muito sério para declarar primeiro
que não o era e depois que estava arrependido.
- Mas está arrependido
de quê, inquiriu o Magistrado perplexo porque o arguido não confessara e não
havia prova.
- “Daquilo que o Sr. Juiz
der como provado” esclareceu o arguido.
Uma semana depois foi
lida a sentença e no jornal local foi noticiado como mais uma vez a justiça
falhara, absolvendo do crime de violência doméstica perigoso agressor.
Tão mais infeliz quanto comprovadamente, parece que casos semelhantes se sucedem uns após outros, na vida real, aquém e além de ensaios de escrita criativa, como creio seja o caso deste teu texto, minha amiga, Gabi.
ResponderEliminarDe qualquer modo parabéns pela partilha, que eu gostaria algum dia a civilização humana olha-se historicamente para trás e perplexa se perguntasse: mas isto era irracionalmente assim?!
Beijo
VB
obrigada :) e seria bom se casos assim ficassem no passado
ResponderEliminarum beijinho