Olhando
para trás penso às vezes se teria podido evitar o que sucedeu.
Mas
a maior parte do tempo evitar questionar-me e sobretudo imaginar que poderia ter
sido diferente.
À
medida que o tempo passa tenho uma vaga consciência do que esqueço. Deixo de me
sentir seguro quanto a se realmente aconteceram como me lembro ou se apenas mastigo
recordações de alguns momentos, sem a intensidade das sensações da altura, sem
certezas. Apenas fragmentos que baralho e reconstruo.
Sinto
que lhes devo, à Pérola e ao Dave contar o que sucedeu, contar como foram
corajosos e belos, tão imensamente belos, talvez também pela sua juventude e
confiança.
Eu,
pouco mais novo, acreditava então que haveria um sentido para a vida que iria
descobrir, que não repetiria erros dos mais velhos e algo de incrível iria fazer
com a minha vida.
Depois,
cresci.
Somos
todos obrigados a crescer, excepto se algo interrompe ou termina a vida. Julgava
antes cruel e trágica a ceifeira que colhia aqueles que mal começavam a viver.
Houve depois uma altura em os invejei, pelas decepções e desespero a que podiam
ser poupados.
Mas
irei começar pelo princípio, quando se conheceram, no Verão de setenta e sete.
Eu
tinha dez anos. Sofrera de raquitismo e os meus pais para que recuperasse
melhor arranjaram uma casa nas Caxinas, Vila do Conde. Casa de pescadores que a
arrendavam e iam viver com familiares ou em anexos. Muito perto do mar.
Logo
no primeiro dia conheci o Dave. Tinha quinze anos mas já trabalhava como pescador.
Nesse
mesmo dia o Dave conheceu a minha irmã da mesma idade, Ana, a quem todos
tratavam por Pérola.
Irei
contar aqui, não o que saiu nos jornais, mas o que realmente sucedeu.
Mais um texto muito bom. Somos todos obrigados a crescer, embora alguns passem pela vida como se ela fora a terra do nunca e eles eternos Peter Pan.
ResponderEliminarAbraço e bom fim-de-semana