segunda-feira, outubro 29, 2018

Post 6870 - Desafio de Escrita 7/10 - Carta




Escrevemos e trocámos cartas mesmo quando nos encontrávamos quase todos os dias.
Acho que fui eu que escrevi a primeira, praticamente um bilhete, porque podias passar pela minha casa quando eu tinha de sair e assim poderias levar algo meu, algo escrito por mim. Foste tu que tiveste a ideia de escrever eu em papel cor-de-rosa e tu, em azul e de colocarmos data nas cartas.
Estas cartas tornaram-se uma continuação, às vezes uma sublimação do que falávamos quando estávamos juntos, do que vivíamos. Descrevemos o que fazíamos, escrevemos sobre o que pensávamos e sentíamos.
Escreveste a tua última carta dias antes de ires embora.
No depois, não a encontrava e quase entrei em pânico com a ideia de a ter perdido. Não podia ter perdido a tua última carta. Encontrei-a por fim numa gaveta da mesinha-de-cabeceira. Tinha-a guardado ali para a ter perto.
Comecei um diário também porque queria continuar a conversar contigo. O que aí escrevia às vezes era como se fossem cartas, mas cartas imensamente tristes.
Devolveram-me as cartas que te tinha escrito e tinhas guardado. Reli as tuas, as que escreveste, enquanto via fotografias antigas e às vezes chorava baba e ranho. Das que te escrevi só li uma ou duas, não gostei delas. Ou me lembravam, embora não o esqueça, o que tinha perdido – eu tive tanta sorte – ou criticava-me pelo que escrevia, pelo que não fiz. Devia ter agora mais momentos contigo, mesmo que o final chegasse quando chegou.
Se fosse desafiada para escrever uma carta como as que escrevi para ti, tantas, tinha de ser para ti.
Espero que haja um depois, que possas estar a ler esta carta enquanto a escrevo e vou terminá-la como as outras,
 a… muitíssimo (não escrevia a palavra mas fui eu que te o disse primeiro)


Sem comentários:

Enviar um comentário