Eu gosto de histórias de amor reais com
finais felizes. Colecciono-as, esquecendo muitas vezes os nomes ou quem eram os
intervenientes.
Lembro-me, por exemplo, de uma
apresentada nos flagrantes da vida real. A narradora tinha presenciado um
acidente de viação em que uma rapariga bonita batia com o seu carro no de um
rapaz simpático. Enervada e em lágrimas, apesar de ter sido dela a culpa,
gritava-lhe “vou fazê-lo pagar por isso”. Mais tarde a narradora ficava a saber
que iam casar e não conseguia evitar pensar que ela realmente o tinha feito
pagar por aquilo.
Havia depois um caso contado pelo
próprio interveniente. Contava como quando jovem, estando a passear num cais,
tinha sentido a vontade irresistível de empurrar para a água, uma rapariga que por
acaso também lá estava. Fê-lo a pressentir que se ela voltasse à superfície a
sorrir ia casar com ela. Ele não a conhecia e ela podia até nem saber nadar.
Mas felizmente ela sabia nadar e voltou mesmo à superfície a sorrir. Casaram e
continuavam felizes (se fosse comigo como
nado mal, ou afundava ou decididamente não emergiria a sorrir).
Ainda noutra história, um rapaz
simpático, mas que não se achava atraente, tinha ido a um baile e começava a
reparar como uma rapariga bonita desprezava todos os que iam convidá-la para
dançar. Ele resolvia fazê-lo também para a criticar ou gozar por vir para um
baile e não dançar, mas quando a abordou, ela que tinha estado sempre séria com
todos os outros, abriu-lhe um grande sorriso e aceitou logo dançar com ele.
Mais uma vez, muitos anos depois continuavam juntos e felizes.
Histórias assim fazem-nos crer que o
amor, ainda que apenas enquanto dure, é para sempre, e desejar poder sentir algumas
vezes o “nós” em vez de o somente eu.
Nas tuas lágrimas vejo as minhas.
As que chorei, as que não choro.
Passámos a linha invisível.
Sabemos que não acontece só aos outros. Sabemos como
é.
Hoje sonhei com o J. Estava a precisar de ajuda e
sem que me pedisse ia ter com ele. Estava jovem, bonito, frágil e corajoso. Tal
como era.
Fecho os olhos e vejo-o no meu sonho. Passaram
tantos anos. Se fosse possível reencontrarmo-nos, será que me reconheceria?
Quis ver sinais em coincidências.
Mas não há volta ou regressos.
Para os que ficam não é o fim. Mudamos. Rejeição,
raiva, medo, saudade, dor. Em avanços e retrocessos, às vezes em simultâneo.
Aceitar foi apenas acreditar que tinha sucedido, saber que a vida continua
(como é possível que continue como se nada tivesse sucedido quando um mundo
acaba?)
Não há nada que possamos fazer.
A dor passa a fazer parte de nós.
Antes não queria pensar que podia acontecer. Agora
não quero pensar que sucedeu.
Antes evitava funerais. Agora percebi o que as
presenças podem significar para os que ficam.
O último gesto por um amigo. Estar lá. Estar lá
apenas, ainda que em silêncio, para escutar as lágrimas da sua família, dos que
lhe eram queridos.
Por isso nas tuas lágrimas estão as minhas.
Todas as histórias de amor 💓 são ridículas???
ResponderEliminarGosto destas!!!
Também eu perdi a minha cabeça por um *deserto loiro* e agora tenho que gramar o inverno alemão 🐸