Vou
recuar ao tempo em que para mim só existia o presente, por o passado ser curto
e o futuro ameaçador. Não foi um tempo feliz.
Dos
dois aos seis anos vivi numa instituição pequena em que as funcionárias tinham algum
tempo e afecto. Não guardo memórias dos primeiros dois anos de vida, do que
vivi antes de chegar ali.
A
partir dos seis, passei para outra Instituição maior. Partilhava o quarto com
mais três que iam variando. Apenas eu permanecia.
Na
primeira instituição, havia outras crianças como eu, e com isto quero apenas
dizer, sem família. Enquanto lá estava, foram sendo adoptadas. Nessa altura
ainda tinha esperança que alguém viesse por mim. Apesar dos meus problemas,
tinha essa esperança. Nos primeiros anos de vida fui gravemente negligenciada –
penso que é assim que foi escrito na minha ficha. Isso reflectiu-se no meu
desenvolvimento físico e mental. Tinha um vocabulário pequeno, desconfiavam de
um pequeno atraso mental. Não era bonita. Ninguém veio por mim.
Na
segunda instituição as crianças e jovens que lá estavam, tinham família. O
Tribunal determinara que ficassem na instituição enquanto os familiares reuniam
as condições para recuperar a guarda. Aos fins-de-semana recebiam visitas de
mães, pais, avós. Eu não.
Tinha
já completado os onze anos quando fui chamada ao gabinete da Directora.
Sentei-me lá, meio abstraída do que me queria dizer, se seria pelas más notas
ou por querer exortar-me a aplicar-me mais, quando a certa altura me mostrou
uma fotografia.
Era a tua fotografia, Marta Maria Gomes. Em pouco tempo decorei o teu nome. A senhora da fotografia queria adoptar alguém como eu. Até chegar o dia em que virias, esforcei-me por não ter esperança. Nesse dia fui de novo chamada ao gabinete da Directora.
O
que aconteceu depois é o que irei contar neste livro.
Isto é muito bonito, muito bem escrito e com um final abertamente cheio de esperança, sem ao menos literariamente descorar a desilusão... que como tal fica à imaginação e/ou preferência de cada qual.
ResponderEliminarMuitos parabéns minha amiga Gábi, tudo isto me parece a antecâmara duma grande escritora _ assim seja!
Beijo de felicitações e votos duma boa Quinta-feira
muito obrigada Victor Barão :)
Eliminar(mas não me vejo nessa antecâmara :)
um beijinho
A história é tocante e promete. Muitas vezes n~´ao nos apercebemos e não damos valor ao nosso contexto familiar.
ResponderEliminarQueria tentar escrever sobre a importância que um encontro assim poderia ter
EliminarNão tinha visto este texto.
ResponderEliminarGostei de ler. Uma história cheia de emoção, muito nem escrita. Gostei muito.
Abraço
muito obrigada Elvira :)
Eliminarum beijinho
Queria dizer bem.
ResponderEliminarDesculpe
Abraço
engraçado é que eu li bem :)
Eliminarnada a desculpar
um beijinho
Adorei a tua participação!
ResponderEliminarPrende-nos a atenção da primeira à ultima palavra!
Um estilo muito clean!... Limpído! Gostei de ler!
Beijinhos
Ana
Límpido... queria eu dizer e não limpído... :-D
ResponderEliminar