Quando
era criança, o seu pai ganhou num jogo de cartas um piano velho. Eufórico
exigiu a entrega do prémio que chegou dias depois quando a alegria do pai tinha
começado a desaparecer, especialmente no confronto com a sua mãe que não estava
de todo contente com a nova aquisição. Teve de entrar pela janela, felizmente
moravam num rés-do-chão, por não caber pela entrada estreita do prédio, e foi
instalado na sala. Arranharam as teclas, detectando as desafinadas, colocaram-lhe
naperons e retratos em cima, e foram esquecendo-se dele.
Um
belo dia, era já ele adulto e tinham os pais ido de férias para a aldeia,
calhou reparar com outros olhos no piano. Imaginou-se a tocar grandes músicas e
a ser o centro das atenções em concertos e festas. Decidiu: ia aprender a tocar
piano.
Foi
até ao Conservatório para se inteirar dos procedimentos. Estavam também de
férias, mas havia anúncios de aulas particulares e anotou alguns. Ligou para o
primeiro número que era de uma professora. Gostou da voz dela, soou-lhe musical,
e marcaram uma aula na casa dela.
Conhecia
a rua e chegou bem cedo. Gastou algum tempo no café da esquina até reunir toda
a coragem necessária para vencer a sua timidez, e lá foi tocar-lhe à porta. Foi
a própria que o atendeu e não correspondia bem à ideia que tinha feito. Em vez
de uma jovem era uma mulher de trinta anos, bonita e muito pintada, com cabelo
azul, camisa laranja, saia vermelha e sandálias douradas. Apesar das mãos bonitas,
com dedos finos, tinha umas unhas compridas, pintadas de castanho, que lhe
lembraram garras.
Conduziu-o
a um quarto pequeno onde apenas cabiam o piano, dois bancos e uma pequena
estante com livros e partituras musicais. Inquiriu-o sobre os seus
conhecimentos que eram muito básicos – na iniciação musical apenas aprendera a
ler pautas e a tocar (mal) a flauta de bisel.
Resolveu
a professora começar a aula tocando uma música simples, mas o que ouviu foram
as suas unhas sobre as teclas como castanholas
Não
queria melindrar a professora, nem desistir das aulas.
Pensou
e percebeu o que tinha de fazer.
Teve
de procurar em várias lojas até conseguir encontrar meias de nylon finíssimas
que fez questão de oferecer-lhe e pedir-lhe que as usasse, antes da segunda
aula.
No
dia marcado, a professora aguardava-o com as suas roupas coloridas, as meias,
sem malhas e as unhas cortadas.
ResponderEliminar:)
Eu sempre quis aprender piano... mas na escola de música só havia vaga para acordeão.
Fiquei com ela e por algum tempo aprendi solfejo, tive aulas teóricas e práticas... mas o meu pai nunca me comprou o acordeão que eu tanto queria.
(e sim, unhas cortadas rentes é imperativo!)
Beijinhos solfejados
(^^)
Cheguei a ter aulas de piano (poucas) e além do piano andei a "arranhar" outros instrumentos, embora acordeão, não :)
ResponderEliminarum beijinho solfejado também (isso é que imaginação)
Gábi
Quando era adolescente e jovem adulta sonhava saber tocar piano para os momentos melancólicos.
ResponderEliminarTenho um piano alto. Os meus filhos sabem tocar piano. Eu... ainda não sei ao fim de tantos anos. Não tenho muito ouvido para a música, não quero tirar lições; o que eu gostaria era de ter uma varinha de condão que me fizesse ser minimamente boa no piano para conseguir “produzir” algo melodioso mesmo que simples.
: )
Unhas e piano são, de fato,incompatíveis. Gostei do texto :)
ResponderEliminarAdoro a melodia do piano...
ResponderEliminarTalvez experimentar umas aulas particulares, Catarina, com um bom professor pode ser bem interessante (eu tive umas aulas quando tive 15 anos e lembro-me de como gostava de aprender músicas fáceis)
ResponderEliminarObrigada Miss Smile :)
Também, Jorge :)