Quando pensamos em quando
fomos crianças, vemo-nos como rebeldes ou exemplares?
O meu primeiro ano na
escola foi num Colégio de Padres, depois passei a frequentar o ensino oficial.
Eram mais exigentes e com a mudança vi-me de repente como uma boa aluna.
Como é que eu seria se
tivesse continuado naquele Colégio?
Não era má aluna, mas não
me parecia importante não o ser. Começámos
logo a escrever com caneta ou lapiseira (na escola oficial voltei ao lápis) e antes
do Natal tínhamos de aprender a tabuada até aos cinco. Apesar de já a saber, uma
colega desafiou-me a pedir para ir à casa‑de‑banho na altura em que a
professora nos interrogava. Ela não pareceu estranhar que o fizéssemos as duas.
Locais familiares como o recreio, porque então vazios pareciam de repente só por
isso estranhos.
Havia um parque com
quatro baloiços. No intervalo, eu saía a correr e colocava-me de pé em cima de
dois, reservava um para a minha irmã que estava no 4º ano. Nenhum aluno da
minha classe ou mais velho, alguma vez me exigiu o baloiço abusivamente
ocupado.
Uma manhã, antes do
início das aulas decidi que a minha instrução ia ficar por ali. Preferia ficar
em casa com outra irmã mais nova. Lembro-me da minha irmã com nove anos
assustada com a ideia (era o nosso pai que nos levava de carro até ao Colégio) e
da professora dela, que ia a entrar na mesma altura, a tentarem demover-me, em
vão. Já me preparava para iniciar o
caminho a pé quando chegou o nosso pai. Tinham-no avisado e ele não gostou da
interrupção forçada no dia de trabalho. Levei um açoite e resolvi repensar a
minha decisão.
Como é que com seis anos
fui assim?
De rebelde e exemplar
todos teremos um pouco.
Sempre fui muito certinha, nada rebelde! Sempre andei em escolas públicas, mas foi antes do 25 de Abril....
ResponderEliminarNessa altura, o ensino era muito rígido e exigente. Não é como agora, que tudo tem de ser facilitado como se todos tivessem 5 anos! Na primária levava reguadas nas mãos porque conversava muito com as colegas. Então, não?! Eu era a única criança em casa...tinha mesmo era de conviver!
Quando olho para a minha infância, lembro-me duma época feliz porque nunca me faltou nada e o ambiente em casa era tranquilo. Mas, seria isso a felicidade? Estava sempre sozinha e lia muito. A partir dos 10 anos é que comecei a viver mais porque comecei a viajar para fora de Portugal...e aí percebi a diferença de mentalidades das pessoas - estávamos em 1966! Lisboa era um lugar cinzento e pacóvio, dominado por meia dúzia de famílias da alta.
Só após o 25 de Abril, é que comecei a ser eu. Tinha 17 anos e estava a acabar o liceu! Foi o meu grito do Ipiranga! Vivi tempos inesquecíveis! Fiz muitas asneiras, arrependo-me de muita coisa mas vivi.
Beijinhos Gábi.