Céu
enevoado, a ameaçar chuva, frio e muito vento.
Não
queria ficar em casa, não tinha também para onde ir.
Saiu
simplesmente a remoer a tristeza e a raiva. Os seus passos levaram-na ao jardim
público próximo. Eram quatro da tarde e estava vazio. Pôde por isso escolher o
assento e abancou no primeiro que viu. Havia quatro bancos espalhados, todos de
madeira, pintados de vermelho a desbotar. Sentiu o frio nas nádegas e a dureza
das tábuas. Olhou à sua volta. As árvores ainda mantinham grande parte das folhas.
Algumas recém arrancadas pelo vento, erguiam-se em fúria em remoinhos baixos.
Ao
longe avistou pais e avós que iam buscar os filhos e netos ao Colégio. Num
outro dia talvez aproveitassem para passear pelo jardim. Naquele apressavam-se a
fugir do frio, temendo a chuva.
Não
tinha tido filhos, não teria netos.
Viúva
há cinco anos, reformada há mais de dez, fora-lhe a vida madrasta, ou os
últimos tempos em solidão amarguraram-na.
Algo
lhe tocou num joelho e assustou-a. Baixou os olhos e viu-o. Era um cãozito
preto e magro, de pelo sujo e sem trela, mas com olhos bons. Pensou e disse-lhe
“andas também largado na vida”. Fez-lhe uma festa e ele não fugiu, ficou depois
ao seu lado. Os dois a olharem as árvores e folhas e o dia que escurecia.
Quando
finalmente se levantou, sabia que ele viria com ela, e foi assim. Acolheu-o e
adoptou-o, como ele a tinha escolhido primeiro a ela.
Não
ficou de repente tudo melhor, mas ajudou-a, ter companhia e um propósito.
Fê-la
também lembrar-se de que havia sol em dias de chuva.
Encontrou o mais fiel de todos os amigos.
ResponderEliminarBeijinho
A doença mais grave do século, a solidão. Fechamo-nos em casa a falar para um écran e não dialogamos uns com os outros, que sociedade triste e só !!! :(((
ResponderEliminarGostei do texto Gabriela
Abraço
Concordo com o amigo Ricardo Santos!
ResponderEliminar-
Cores matizadas, alegres ciprestes
-
Beijos, e uma boa noite:)
Gostei do que li, Gábi.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Gosto da subtileza com que nos transporta do Outono para o tema da solidão e deixa aberta a porta à esperança.
ResponderEliminarUma história triste que acabou bem!
ResponderEliminarAbraço