Quando
a minha avó morreu, a minha mãe teve de tratar de tudo para entregar a casa ao
senhorio. Um apartamento num prédio na Av. Duque d’Avila que já foi deitado
abaixo.
Nessa
altura fizemos várias viagens a Lisboa, de comboio ou de camionete.
Para
a minha mãe, deve ter sido muito difícil e triste, para mim, havia algo de aventura
e a morte não era ainda bem real.
Em
Lisboa alguns taxistas suscitaram o problema mas aceitaram levar-nos aos cinco,
o meu pai à frente e atrás a minha mãe, muito elegante, e as três filhas, a
minha irmã mais velha com catorze anos, e eu e a minha irmã mais nova com onze e
nove anos, ainda bem miúdas e magrizelas.
Nos
Mercedes Táxi cabíamos perfeitamente.
Numa
noite em que regressávamos de camionete, esperámos muito tempo até chegar um táxi e
aqui, no Porto, o motorista foi peremptório, não nos levava aos cinco.
O meu pai disse então que iria a pé, até
porque tendo levado tanto tempo até chegar um táxi, não faria muito sentido
ficar o mesmo tempo, ou mais, à espera do próximo.
A
minha mãe não queria que ele ficasse sozinho, mas com três filhas e as malas,
não via como irmos todos a pé.
Aí,
eu disse que ia com ele. O táxi afastou-se com a minha mãe, as minhas irmãs e
as malas e nós iniciámos o passeio.
Era
bem tarde e não se via ninguém pelas ruas, mas não senti receio, dei a mão ao
meu pai, tentei acompanhar os seus passos e conversámos até chegarmos a casa.
Lá
havia luz e a minha mãe tinha feito torradas e café com leite para comermos.
Senti-me
feliz por ver que a minha mãe tinha gostado que o meu pai não fosse sozinho,
ter conseguido acompanhar os seus passos, e estarmos depois todos juntos, em
casa, a cearmos as torradas e o café com leite.
Gostei de ler este seu relato ao mesmo tempo triste e afectuoso.
ResponderEliminarGostei muito de ler a sua memória Dona-Redonda.
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