O que é que fica de nós
quando morremos?
Permanecerá alguma
ligação ao corpo, concha vazia que se desintegra?
Teriam razão os egípcios
ao crerem que poderiam continuar a viver no outro mundo enquanto se mantivesse
o seu corpo aqui na Terra? A ser assim, curta vida terão os que optam pela
cremação, imensamente longa as das múmias.
Talvez continuemos a
existir enquanto formos lembrados.
Dele sei tão pouco.O
menino das laranjas.
Andámos na mesma escola
primária. Aos sete anos comecei a ir sozinha. Ficava perto, havia pouco
trânsito. Em parte percorremos o mesmo caminho. Era a tia que o levava e ia
buscar à Escola e era a tia que o criava. Como a mim me ensinaram, também a tia
lhe terá dito para ter cuidado no caminho, ir pelo passeio ou berma, olhar para
os dois lados antes de atravessar.
No primeiro dia em que
foi sozinho, aconteceu.
Ele ia pela berma. Contra
ele foi o jipe do jovem que se despistou.
Na rua ficaram as duas
laranjas que a tia lhe dera de merenda.
Terá a tia pensado que se
fosse com ele o salvaria? Ou que teriam morrido os dois? Talvez o preferisse.
No funeral tinha duas mães a chorar por ele, a que o entregara à tia, e a tia
que o queria como um filho.
Viverá na memória dos que
o conheceram?
E dos que souberem que
existiu, andou na escola e foi amado.
ResponderEliminarEmocionaste-me rapariga...
Beijinhos com memórias de amizade
💙
Gostei de ler. Acredito que vivemos enquanto alguém se lembrar de nós.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana