Tudo
começou com um abraço.
Não
vi primeiro quem me abraçava, mais exactamente quem tentava abraçar-me as
pernas, senti-o, tive de baixar o olhar para o ver e depois ajoelhei-me para
estar mais perto dele e vê-lo melhor.
Estávamos
ali para conhecer o bebe porque esperávamos há anos.
Quando
casei com o Pedro, sabíamos que queríamos ter filhos, dois ou três. Pelo menos
um, pensámos ao fim de três anos sem que engravidasse.
Eu
com endometriose, ele com azoospermia, tentámos a fertilização in vitro e a
inseminação artificial, duas vezes.
Em
vão.
Passo
seguinte, inscrever-nos para a adopção. Queríamos um bebé. Esperámos cinco
anos.
Até
ao telefonema que nos trouxera ali, uma Instituição que acolhia crianças até
aos dois anos.
Enquanto esperávamos algo me atraiu para uma
sala de onde vinham risos e gritinhos de crianças a brincar. Terão talvez pensado
que eu era uma auxiliar. Não me barraram o caminho, ninguém parecia ter
reparado em mim, ou assim pensei até sentir que dois bracinhos me rodeavam as
pernas. Estava a ser abraçada por um garotinho de cabelo espetado e óculos de
lentes muito grossas.
Quando
me ajoelhei, veio para os meus braços como se nos conhecêssemos. Não falou mas
não foram precisas palavras para que me fizesse sentir que confiava em mim.
Tinha
também problemas numa perna e suspeitavam de um ligeiro atraso mental, que
depois felizmente não se confirmou. Já ultrapassara a idade limite para aquela
instituição, mas com quatro anos aparentava dois e pelos problemas que tinha, ninguém
o queria.
Até
nós chegarmos.
Peguei
nele ao colo e levei-o comigo até ao Pedro, que percebeu.
Naquele
dia não levámos connosco nenhum bebe, mas encontrámos o nosso primeiro filho, o
meu garotinho de cabelo espetado que ainda hoje dá os melhores abraços do
mundo.
Emocionante e belo texto, Gábi.
ResponderEliminarParabéns pela fina sensibilidade que tens para a escrita.
Para quando uma colectânea de todos estes contos breves, que tens escrito ao longo do tempo? Pensa na edição e olha; título já tens! :)
Beijinhos.
Bom dia.
ResponderEliminarSubscrevo o comentário da Janita.
Abraço