quinta-feira, agosto 02, 2018

Post Desafio de escrita OE (2ª Edição) - 1/10 Sim

“Sim à vida” foi o nome de que se lembraram para baptizar o seu grupo de jovens cristãos. Reuniam-se no final das tardes, liam passagens do Livro Sagrado, ensinavam o Evangelho aos mais novos para os prepararem para a comunhão e no final do liceu tiveram um retiro no Gerês.
Depois entrou para a Faculdade, licenciou-se e começou a trabalhar. Queria permanecer fiel aos seus ideais. Primeiro parecia nunca ter tempo, até que percebeu que perdia a fé.
Enquanto crescia passara por diversas tentativas de diários, cadernos às vezes escolares que abandonava com somente as primeiras páginas manuscritas e depois destruía. Sentia a necessidade de escrever para desabafar quando algo o afligia, depois envergonhava-se do que escrevera ou de como o escrevera.
Não queria perder alguns momentos que via como essenciais e definidores. Acreditava que a forma de os guardar seria lembrar, não os dados objectivos, quando, onde, com quem estava, mas o que sentira na altura.
Decidira por isso voltar a escrever um diário e tencionava fazê-lo com regularidade.
Naquela noite, saíra para uma volta a seguir ao jantar. Em pleno Inverno, apenas se cruzou com dois ou três cães que passeavam os donos.
Alguém tinha pintado aquela frase “Sim à vida” nas paredes enegrecidas da velha fábrica. Não era a única frase e havia também desenhos ou riscos que o pretenderiam ser. Por ali tinham passado vários artistas de grafiti, e tinham conseguido assinar as suas obras pela cor e pelo traço, às vezes com o nome ou um pseudónimo/alcunha. O autor do “Sim à vida” aparentemente escrevera apenas aquela frase, não reincidira noutra obra, nem assinara o nome.
Com o iPhone fotografou a frase na parede. Elegeu-a como o título e o rumo do que pretendia, uma crónica da vida, resposta à questão sobre continuar vivo. Sim!


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