“Sim à vida” foi o nome
de que se lembraram para baptizar o seu grupo de jovens cristãos. Reuniam-se no
final das tardes, liam passagens do Livro Sagrado, ensinavam o Evangelho aos
mais novos para os prepararem para a comunhão e no final do liceu tiveram um
retiro no Gerês.
Depois entrou para a
Faculdade, licenciou-se e começou a trabalhar. Queria permanecer fiel aos seus
ideais. Primeiro parecia nunca ter tempo, até que percebeu que perdia a fé.
Enquanto crescia
passara por diversas tentativas de diários, cadernos às vezes escolares que
abandonava com somente as primeiras páginas manuscritas e depois destruía.
Sentia a necessidade de escrever para desabafar quando algo o afligia, depois
envergonhava-se do que escrevera ou de como o escrevera.
Não queria perder
alguns momentos que via como essenciais e definidores. Acreditava que a forma
de os guardar seria lembrar, não os dados objectivos, quando, onde, com quem
estava, mas o que sentira na altura.
Decidira por isso
voltar a escrever um diário e tencionava fazê-lo com regularidade.
Naquela noite, saíra
para uma volta a seguir ao jantar. Em pleno Inverno, apenas se cruzou com dois
ou três cães que passeavam os donos.
Alguém tinha pintado
aquela frase “Sim à vida” nas paredes enegrecidas da velha fábrica. Não era a
única frase e havia também desenhos ou riscos que o pretenderiam ser. Por ali tinham
passado vários artistas de grafiti, e tinham conseguido assinar as suas obras
pela cor e pelo traço, às vezes com o nome ou um pseudónimo/alcunha. O autor do
“Sim à vida” aparentemente escrevera apenas aquela frase, não reincidira noutra
obra, nem assinara o nome.
Com o iPhone fotografou
a frase na parede. Elegeu-a como o título e o rumo do que pretendia, uma crónica
da vida, resposta à questão sobre continuar vivo. Sim!
Mais um texto que adorei ler... super bem construído!...
ResponderEliminarBeijinho
Ana