Acredito que um dia virás à minha procura.
Não
sei se ainda estarei por cá e por isso quis escrever esta carta, para poder
responder às perguntas que imagino quererás colocar-me.
Dói-me
o corpo, sinto-me rasgada e ferida, mas bem maior é o vazio que já sinto, e
nada do alívio que ambicionava por finalmente concretizar o que decidi.
Que
mulher abandona a sua cria?
Adivinhei-te
logo no sono e nos enjoos, mas não queria enfrentar o que sabia.
Contei
ao homem que não quis ser teu pai, e ele desprezou-nos aos dois. Queria que
abortasse. Se não o fizesse, avisou-me para não contar com ele para nada. Senti
tanta vergonha por ter andado com alguém assim. Queria apagá-lo do meu passado
e para não o ter no futuro, tinha também de te renegar a ti.
Mas
não foi só por isso.
Poderia
tentar ser uma mãe coragem – hoje em dia fala-se tanto nelas. Ser mãe e pai,
metê-lo em tribunal pela pensão de alimentos – mesmo não querendo que nada
continuasse a ligar-me a ele.
Tive
medo que te parecesses com ele e não conseguisse amar-te.
Qualquer
criança tem de ser um milagre, deve ter à sua espera pais que se apaixonem por
ele, que o cuidem, protejam e adorem.
Eu
não me sentia capaz.
Se
já te sentia nos enjoos e inchaços no final do dia, se te sabia frágil, tão
ligado e dependente de mim, vivo, não podia interromper a gravidez. Deixei que
o tempo passasse até já não ser permitido pela lei, depois até que a barriga
fosse visível, se não a escondesse, mas segui o que a médica dizia, vitaminas,
alimentos, descanso, nada de café, tabaco ou álcool.
Disseram-me
que és saudável. Não quis ver-te.
Abandono-te
para que tenhas uma mãe, um pai, que te amem.
Verdade ou não, é uma carta comum a tantas mulheres que são abandonadas, pelos trastes que só as querem para se satisfazerem. "quando a corre mal", eles põe-se ao fresco. Depois As crianças não têm culpa de asneira alguma. Muito bonito, mas triste, este texto.
ResponderEliminarHoje:- Não nego, que o meu coração se apaixonou.
Bjos
Votos de uma óptima Segunda-Feira
Belo texto.
ResponderEliminarApesar de retratar uma realidade triste é um belo texto.
Beijinho