quinta-feira, janeiro 18, 2018

Post 6505 - Desafio de Escrita 9/10 - Não há lugar como a nossa casa

Entrou em casa, e atirou a chave que não precisara de usar para o bengaleiro que silenciosamente vigiava a porta. Anoitecia e terá sido por isso que não reparou no diferente posicionamento daquele que avançara alguns centímetros, afastando-se da parede.
- Eva, cheguei! Alteou a voz, imaginando-a no quarto, lá em cima. Não esperava uma resposta. Como costumava fazer, foi até à sala e ligou o televisor, diminuindo o som, baixou o tronco para se sentar no velho sofá azul… e aterrou no chão.
Esparramou-se desamparado, cabeça para trás, bracejando assustado. Mas onde é que estava o sofá? Levantou-se para descobrir que não tinha desaparecido, mas tinha recuado quase um metro e no escuro da sala surgia cinzento e indiferente.
- Eva! Gritou, sentindo a raiva a crescer, já começava a ver tudo negro, quando galgou os degraus da escada em direcção ao quarto.
- Andaste nas decorações de novo?!
Já era uma mania, punha-se a mudar os móveis de um lado para o outro, ficava tudo pior durante alguns dias até ela cair em si e deixar que voltassem aos velhos lugares.
Lá em cima, abriu a porta com estrondo e tropeçou num banquinho desconhecido. Ali tudo tinha sido mudado, nem cama havia, quanto mais a Eva.
Tinha-o deixado? Se calhar devia ter sido menos crítico, e mais compreensivo e incentivador dos seus ideais decorativos.
Foi então que no canto esquerdo reparou num berço e no berço, uma criança dormia. Mas não tinham filhos…
O papel da parede estava diferente, e mostrava marcas do tempo, sobretudo perto da janela, com flores amarelas descoloridas pelo sol e meio esfoladas.
Ouviu passos, o som de saltos femininos a baterem nos degraus energicamente. Aproximava‑se alguém.
Foi ao seu encontro e deparou com a vizinha.

Tinha entrado na casa gémea daquela onde vivia.

12 comentários:

  1. Fantástico texto! Parabéns

    Hoje, em texto:-Aves que esvoaçam ... Afastamento dilacerante...

    Bjos
    Votos de uma feliz Quinta Feira.


    ResponderEliminar
  2. Estava a adivinhar o fim.
    Porque isso aconteceu com um Professor em Coimbra.
    Parece mentira, é real.
    E ele ainda teve a suprema lata de dizer à dona da casa quando o encontrou esparramado no sofá - "Entre, ponha-se à vontade. Não sei o que é que se passa, não está ninguém em casa." :))))
    Beijinhos, bfds

    ResponderEliminar
  3. Bem! Lá pelo inicio dos anos 90, naturalmente do passado séc. XX, numa cidade do Algarve uma respectiva noite, cerca das quatro ou cinco da manhã, só não entrei na casa dos vizinhos porque a porta estava fechada e a minha chave não encaixava na respectiva fechadura, mas ao aperceberem-se dalguém a mexer na porta vieram à janela, o curioso é que, ao menos aparentemente no momento, não se chatearam por eu me ter enganado na porta _ não sei, talvez já lhes tivesse acontecido com algum outro vizinho(!?), pelo que após desculpar-me, ficou tudo em paz e eu corrigi a trajectória, dirigindo-me à acertada porta ao lado :) _ mas algo do género também já se me passou com o carro, enfim percalços de gente distraída!!!
    Excelente Sexta-feira
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. eu já quase entrei no carro errado - que não era meu porque tinha a sorte de ter uma boleia, mas felizmente apercebi-me a tempo :)

      um beijinho

      Eliminar
  4. ahahah... Já quase me aconteceu também ! :)
    O elevador parou no andar anterior ao meu, enfiei a chave na fechadura, mas teimava em não abrir ! ... Pensando haver qualquer problema com a fechadura toquei à campainha para a minha mulher abrir .
    ... Apareceu-me a vizinha e eu fiquei encabulado ! :))

    Muito bom o texto, Gábi ! :)
    Beijo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :) e eu a pensar que seria difícil suceder algo assim :)

      obrigada Rui
      um beijinho

      Eliminar
  5. Numa casa não mas num carro já aconteceu ao meu marido...

    ResponderEliminar