Não
era a primeira vez que se encontravam, nem a segunda, a terceira, ou sequer a
décima, mas tinha decidido que seria a última
Estava
farta daqueles tropeços. Sentia-se observada e encurralada. Perseguida.
Viu-o
entrar no café, atrás de uns turistas. Tentava passar despercebido o
dissimulado. Teve azar. Calhou ela estar a olhar para a porta nesse preciso
momento.
Viu-o
escorregar para um banco no canto mais escuro. Não levantava os olhos, rosto
cinzento e inexpressivo, lábios como linhas, com um pequeno esgar ou meio riso
satisfeito. Acreditaria não ter sido visto.
Pensou
na estratégia a tomar. Ir até lá com passos largos e firmes e dirigir-lhe:
“Ouve
lá!”
Tratá-lo
por “tu” soava-lhe como demasiado próximo e familiar.
Seria
melhor:
“Ouça
lá!”
Imaginou
a surpresa, o choque, no rosto dele. Sem querer, deu por si a sorrir, mas logo
a seguir, apercebeu-se que ele estava a olhar para ela, nesse preciso momento
Terá pensado que o sorriso era para ele e sorriu-lhe também.
Foi
ela que desviou o olhar. Mas que era aquilo?! Ela era uma mulher séria, não
andava a sorrir para desconhecidos, especialmente desconhecidos que a
perseguiam em encontros falsamente acidentais que ela sabia muito bem que
coincidências assim não existiam.33
Ficou
sem saber o que fazer. Será que ele continuava a olhar para ela? E se ele
viesse ter consigo? Podia sentir como incentivo o sorriso correspondido.
Decidiu
ir embora. Sem olhar para onde ele estava (sentindo até o pescoço dolorosamente
rígido com o esforço para olhar somente em frente) levantou-se e dirigiu-se
para a saída.
Teve
de estacar quando ele lhe surgiu à frente: “Olhe lá, não nos conhecemos? Não é
a irmã do Rui?
Quer
horror, era sim e ele seria um colega do irmão.
Não
se deu por achada. Fugiu-lhe, balbuciando “olhe que não”.
As coisas nem sempre são como as imaginamos.
ResponderEliminarAbraço
Pois não, Elvira, algo que pareço estar sempre a descobrir
Eliminarum beijinho
Excelente relato _ fictício, creio _ aludindo a um "interessado" e a uma "desinteressada", com todas as inerentes contingências, não raro inesperadas!!!
ResponderEliminarParabéns e felicidades, Gábi
Beijo
Obrigada Victor Barão - fictício sim quanto à história, mas pensei no que a Elvira escreveu em cima, quanto às coisas não serem, muitas vezes, como as imaginamos
Eliminarum beijinho e felicidades também