quinta-feira, janeiro 26, 2017

Post 6006 Livros 2017 (12) O Baile de Irène Némirovsky

O Baile de Irène Némirovsky

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Na Contracapa:
"Antoinette tem catorze anos e deseja participar, mesmo que apenas por instantes, no baile que os seus pais, os Kampf, organizaram para ostentar a sua recém-adquirida riqueza. Mas a mãe decide não permitir a presença da filha, cujo corpo e maneiras a envergonham.
Desesperada, Antoinette vai vingar-se de um modo tão radical como inesperado.
O Baile, um romance de iniciação sobre a adolescência e os seus tormentos, foi um dos primeiros livros escritos por Irène Némirovsky, prematuramente morta em Auschwitz em 1942.
Surgida em 1930, a novela, inspirada nas difíceis relações entre a autora e a sua mãe, confirmou uma grande escritora, capaz de descrever a crueldade adolescente, ao mesmo tempo natural e premeditada, marcada pelo humor e pela ternura.
Irène Némirovsky nasceu a 11 de Fevereiro de 1903, em Kiev, Ucrância, numa família de banqueiros judeus.
A sua infância decorreu num tempo de violência e progroms anti-semitas.
O seu pai, Leon, não praticava a religião judaica, o que permitia à família frequentar a sociedade russa culta e europeizada, Irène teve mesmo uma preceptora francesa que lhe ensinou História e lhe leu Os Miseráveis quando contava apenas sete anos.
Em 1912, as perturbações políticas e as manifestações anti-semitas levaram o pai de Iréne a enviá-la, e à mãe, Fanny, para França. Em Paris, Fanny levou uma intensa vida social, deixando a filha entregue à sua preceptora.
Em 1914, a família fixou-se em São Petersburgo.
A Revolução de Outubro de 1917 leva a que o pai de Irène seja perseguido. A família Némirovsky oculta-se num pequeno apartamento moscovita, em cuja biblioteca Irène lê Huysmans, Maupassant, Wilde e Platão. Em Fevereiro de 1919 mãe e filha refugiam-se na Finlândia, disfarçadas de camponesas, com as jóias e dinheiro ocultos nas vestes. É já na Finlândia que Irène começa a escrever.
Depois de uma passagem por Estocolmo, a família instala-se em Paris, onde o pai de Irène refaz a sua fortuna a partir de uma sucursal do seu banco russo.
Ao regressar a Paris, Irène tem dezasseis ano, Licencia-se em Letras e publica, sob pseudónimo, em revistas. Goza de bastante liberdade como resultado do abandono maternal e das longas ausências do pai. Frequenta os meios intelectuais dos exilados russos, onde encontra Michel Epstein, um banqueiro com quem se casará em 1925.
As tensas relações com a sua mãe, Fanny, vão fornecer-lhe tema para algumas das suas obras. Fanny despreza a filha, que considera uma rival. Obcecada pelo envelhecimento, apresenta-a como irmã mais nova no baile que o pai organiza em honra dos seus dezoito anos. Pelas mesmas razões, pede-lhe para abortar quando Irène lhe anuncia a gravidez, pois recusa-se a ser avó.
David Golder, publicado em 1929 é o primeiro romance de Irène Némirovsky e foi saudado pela crítica como uma obra-prima. O Baile, publicado em 1930 teve igual aceitação. E durante os anos 30 Irène publica nove romances e uma antologia de contos.
Irène vai torna-se popular nos meios intelectuais parisienses, onde através do seu editor, Grasset, encontra Cocteau, Morand e Montherlant. Mas os seus dias felizes vão terminar com a subida de Hitler ao poder na Alemanha em 1933.
Inicialmente, Irène não tem noção do perigo que corre, apesar de o seu pai lhe ter recomendado, em 1926 que partisse para os EUA. Considera-se uma escritora francesa, mãe de duas crianças francesas e afastada das suas raízes judaicas.
Por outro lado, nem ela nem o  marido haviam solicitado a nacionalidade francesa, e quando tentam fazê-o em 1938 é já demasiado tarde.
Em 1940, as tropas alemãs ocupam Paris e o governo colaboracionista de Vichy aplica com zelo as leis alemãs antijudaicas. Michel Epstein é impedido de exercer a profissão de banqueiro e Irène é proibida de publicar e de receber direitos autorais. Apesar do apoio do seu editor, Albin Michel, a situação degrada-se. A 13 de Julho de 1942, Irène é presa pela polícia francesa, internada em Pithiviers e depois deportada para Auschwitz, onde morre a 17 de Agosto (o marido será igualmente morto em Novembro de 1942). As duas filhas são salvas in extremis  e internadas num convento."
Pág. 44:
"Recomeçou a espreitar; a vidraça embaciava-se sob os seus lábios; limpava-a com fúria e encostava a cara outra vez. Por fim, impaciente, abriu os batentes de par em par. A noite estava límpida e fria. Pôde então ver nitidamente, com o olhar perspicaz dos quinze anos, as cadeiras alinhadas ao longo da parede, os músicos em redor do piano, Ficou imóvel durante tanto tempo que deixou de sentir o rosto e os braços nus. Por breves instantes, sentiu-se alucinada a ponto de pensar que nada acontecera, que vira a ponte em sonhos, as águas negras do Sena, os convites rasgados esvoaçando e que, por milagre, os convidados iam entrar e a festa começar."

Gostei muito deste livro e vou procurar ler outros livros da mesma autora. Ao contrário do que consta na contracapa não interpretei a interdição da mãe à ida da filha ao baile por o corpo e as maneiras desta a envergonharem, mas por querer a mãe ser jovem e negar a existência de uma filha já com idade para ir ao baile.


6 comentários:

  1. Confesso que nem conhecia a autora.
    A Gábi dá-nos óptimas sugestões.
    Beijinhos

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    1. E pelo menos um dos seus livros esteve na base um filme recente Suite Francesa.
      um beijinho

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  2. Não conhecia esta autora e agradeço-te a apresentação; gosto muito de ler e este livro deve ser muito interessante. Gostei também do diálogo entre avô e neto e criança precisa sempre muito de conversas sinceras e abertas com os pais e avós Infelizmente hoje em dia elas estão muito carentes de afectos: os pais andam demasiadamente ocupados e os avós, na maioria das vezes são colocados em lares e nem veem os netos. Beijinhos, amiga e desculpa a ausência
    Emilia

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    1. Muito obrigada pela visita e pelas palavras, nada há a desculpar :)
      um grande beijinho
      Gábi

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  3. Também não conhecia.
    Mas fiquei com vontade de investigar...

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