A
mãe avisou-o de manhã que logo o avô viria falar com ele.
O
dia na escola não lhe correu bem. Estava sempre a lembrar-se da conversa
anunciada. Depois da directora ter ligado à mãe, esta olhara para ele com ar
severo, e dissera-lhe que ia contar ao avô. A seguir veio o aviso daquela
manhã. Chegou a casa e mal conseguiu lanchar. Ao contrário do que costumava
fazer, não foi brincar e sentou‑se à mesa, com a cópia e os exercícios de
matemática, sempre em sobressalto quando pensava que era o avô que chegava. O
pai estava longe a trabalhar. Em casa tinham ficado só ele e a mãe, que também
saía para trabalhar quando o deixava na escola. Só o avô parecia ter tempo para
ele. Quando o ia buscar à escola era uma festa. Não queria que o avô pensasse
mal dele.
Já
escurecia e foi preciso ligar a luz, quando o avô chegou.
Não
foi a correr ter com ele como normalmente fazia, esperou que chegasse ao pé de
si, nos seus passos vagarosos e se sentasse na cadeira ao seu lado.
-
Então, Martim, conta-me o que se passou na escola.
Tinha
tanta vergonha que nem levantou os olhos:
-
Bati no Paulo, avô.
-
E porque é que fizeste isso?
-
Ele disse que o pai se foi embora porque não gostava de nós. Gritei com ele que
era mentira, ele riu e bati-lhe, dei-lhe um soco no nariz.
-
O pai está longe a trabalhar porque gosta de ti e da mãe e não ia gostar do que
fizeste.
-
Fiz mal avô, desculpa. Não torno mais.
Chorava
quando o disse.
O
Avô abraçou-o. Nos seus olhos, amor e perdão.
A
nuvem negra dissipou-se. Martim pôde voltar a ser ele e foi brincar.
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