Chegou à hora marcada pela primeira
vez naquele ano. Cansados no final de dia de trabalho e animados com a
proximidade do Natal, ninguém estranhou. Não repararam que a camionete era mais
verde por fora, mais limpa por dentro e o condutor, um gorducho barbudo
desconhecido.
Lá dentro, pouco a pouco, foram
todos adormecendo. Já não viram que não seguia o caminho habitual. Trocou as
ruas iluminadas do centro da cidade por caminhos sombrios, desvendados apenas
pela parca luz dos faróis.
O seu sono durou o tempo da viagem,
escondeu a grande distância percorrida, e quando pararam, despertaram num mundo
diferente.
O estranho barbudo riu-se: “Ho, Ho,
Ho, vamos ao trabalho!”
Lá fora, outras camionetas chegavam
e despejavam os passageiros no centro da fábrica. Ali as cores eram mais
intensas e vibrantes, e cheirava a bolos saídos do forno
Era preciso acabar os brinquedos,
empacotá-los e ordená-los, seguindo os desejos das cartas escritas ou meramente
sonhadas.
Eram vários os condutores gorduchos
e as suas barbas branqueavam quando envergavam fatos vermelhos e se dirigiam
para os trenós, já com as renas atreladas.
Tudo pronto antes da meia-noite,
regressaram às camionetes, mais cansados e animados.
De novo adormeceram, esqueceram o
sucedido e o tempo recuou enquanto voltavam para a cidade. Foram saindo nas
suas paragens com a vaga sensação de não recordarem algo importante.
José chegou a casa e lembrou-se
mais uma vez que se esquecera de comprar a boneca que a filha queria. Fá-lo-ia
no dia seguinte, pensou quando ela veio a correr ter consigo e a sentou no seu
colo, meia de lado para poder beijar a mulher. E eis que a filha descobriu no
seu bolso a prenda desejada. Ouviu-a rir, e sem perceber como era possível,
viu-a com a boneca que cheirava a bolos acabados de cozer.
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