Maria não pensava muito em si mesma, mas se o fizesse, seria como cuidadora.
Os seus pais tinham uma idade avançada quando nascera, a última de nove filhos.
Parecera natural a todos que fosse ela a ocupar-se deles.
Com dias e noites exigentes habituou-se a não ter sonhos.
Quando os pais morreram e se viu sem eles, sentiu então a maior dor, pela
falta que lhe faziam, pelo vazio que lhe parecia ter-se tornado a sua vida.
Invadiu-a também um medo indefinido, porque a existência de algo tão terrível
como a morte, passou a assombrá-la, sentia que tudo o que era mau podia suceder
a qualquer momento.
Começou então a sentir uma dor persistente no estomago.
Queria ignorá-la, mas a dor crescia.
Cada nova pontada trazia consigo um turbilhão de pensamentos catastróficos.
“E se for algo grave?”. O medo paralisava-a
As semanas passavam e a dor tornou-se constante, acompanhada de uma fadiga
inexplicável.
Até que a certa altura os irmãos repararam e insistiram para que procurasse
um médico. Ela inventou desculpas, mas era o medo que a impedia. Medo de
diagnósticos, de exames, de encontrar algo que não pudesse ser desfeito.
Certa noite, a dor foi tão intensa que não conseguiu dormir. Rolou na cama,
suando e chorando, enquanto a mente criava cenários cada vez mais terríveis. A
noite parecia interminável.
Quando o sol finalmente nasceu, decidiu enfrentar o seu medo e marcou uma
consulta
Os exames foram feitos e, para sua surpresa, o diagnóstico foi uma gastrite
aguda, causada pelo estresse e pela má alimentação. Nada incurável. Com o
tratamento adequado a dor começou a desaparecer.
O medo de estar doente tinha sido pior que a própria doença.
Percebeu que teria de esforçar-se e enfrentar os medos com que se ia
deparando para vencer perigos reais e encontrar esperança.
Quando a gente se livra de um estresse, inventa outro....:((
ResponderEliminar