quarta-feira, maio 29, 2024

CNEC 68/40 - 6/10

 

Antigamente teria sido um edifício imponente. O velho Silo alojara lojas no rés-do-chão e os vários andares serviam de parque.

Com o tempo fecharam as lojas e anunciava-se a sua demolição.

Eram poucos os que ali vinham e praticamente todos evitavam o velho elevador preferindo as escadas. Tinham havido um ou dois acidentes com aquele e desaparecimentos inexplicáveis.

Seria o seu ar desarranjado ou a sombra desses boatos que o deixavam parado, mas ele tinha fome e aguardava que algum solitário o chamasse.

Numa tarde de chuva um casal de idade levou para ali o carro. O senhor andava devagar agarrado à sua dignidade, a senhora recorria já a uma bengala. Seria para eles difícil ir pelas escadas e chamaram o elevador. Ruidosamente subiu da cave até eles, abriu a porta e deixou-os entrar.

Ouviu-se então um “segurem o elevador” e a senhora com a bengala impediu a porta de fechar, para que entrasse um casal jovem de dois rapazes enamorados. Juntos desafiavam o mundo felizes na sua paixão recente.

Queria o elevador devorar os primeiros convencido que nenhuma falta faziam, mas um acidente que envolvesse também o novo par, podia até precipitar a destruição do prédio. Hesitou e parou com um estremecimento entre dois andares.

Querem ver que isto parou? Comentou um dos rapazes, enquanto pressionava o botão de alarme, sem que alguma resposta obtivesse.

O outro sofria de claustrofobia. A senhora apercebendo-se, agarrou na mão dele e disse-lhe com uma voz doce: serão só uns minutos de certeza.

O marido puxou do telemóvel para pedir ajuda e para que se acalmassem resolveu contar como sobrevivera a um quase acidente de avião.

A história não fazia sentido e prolongou-se mais de uma hora até que mesmo o elevador se entediou.

Vagarosamente levou-os ao rés-do chão e deixou-os sair ilesos.

 

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