quarta-feira, maio 15, 2024

CNEC 68/40 - 4/10

 

Perfilavam-se orgulhosos cientes da sua importância.

Logo seriam escolhidos.

 

Tinha só uma pequena ideia do que o esperava.

Rumores e boatos seriam mais de mil, mas fosse como fosse, estaria à altura dos acontecimentos.

Chegara ali com alguns dos seus colegas num transporte fechado.

Quando dera por si, vira-se num espaço pouco iluminado e barulhento, rodeado pelo cheiro delicioso a pipocas. Sabia que iria acolhê-las, com sal ou açúcar e seria ele a levá-las depois. Viu tal suceder com os primeiros da fila. Bípedes chegavam até, lá esperavam em linha, recebiam os primeiros das filas, com diversos tamanhos, já a envolverem as pipocas e seguiam em direção ao mundo.

Ao chegar a sua vez, viu-se qualificado como pequeno (de certeza que não pensava assim de si próprio, ao ver-se como único e tão especial como todos ou outros) logo o esqueceu ao ver-se preenchido pelas pipocas doces. Sentia o seu calor morno e o cheiro do açúcar. Firmemente agarrado por quem o escolhera para transportar as pipocas, percebeu que afinal seguiam para outra sala mais escura, que pouco a pouco se enchia de bípedes iguais a ele, talvez sacerdotes, que de forma organizada se foram sentando, todos voltados para o altar.

Cedo este incendiou-se. Seria talvez uma janela para o mundo? Cores intensas sucederam-se, acompanhadas de sons diferenciados, às vezes ensurdecedores. Alguns dos bípedes riam, outros proferiam expressões de espanto ou adoração. Enquanto isso o seu bípede começou a devorar as pipocas.

Quando não restava mais nenhuma, o altar apagou-se. Desfeita a ordem todos se precipitavam para a saída.

Foi então que, horror dos horrores, o bípede que o trouxera ali, o dobrou e amachucou e o lançou para um balde escuro.

Terminaria ali a sua vida se não fosse salvo pela reciclagem…

 

1 comentário: