Pouco se lembrava da tia-avó. Vinha-lhe à ideia uma
senhora magrinha e baixinha, que pouco falava, mas parecia bondosa.
Teria estado presente em festas dos avós até que estes
morreram.
Não sabia sequer que ainda era viva, até ser
confrontado com a notícia de que tinha morrido e que ele era o único herdeiro.
Havia um valor depositado no Banco, “o poucochinho que
ela poupou”, disse-lhe o Notário com um ar triste e sério.
Era preciso entregar a casa arrendada ao senhorio.
Entrou lá pela primeira vez para escolher o que era para dar - praticamente
tudo, móveis e roupas velhos. No entanto, descobriu também num guarda-fatos, um
álbum de fotografias.
Apesar de não saber bem o que fazer com ele, resolveu
trazê-lo consigo.
Na sua casa e com mais tempo pegou nele. As
fotografias eram bem antigas. A preto e branco, mais amarelo que branco, pela
acção do tempo, chegaram até ele imagens de desconhecidos, em fatos
domingueiros e poses rígidas. Seriam da sua família? Pais, avós ou tios da
tia-avó? Seria ela a criança que a mãe forçava a estar na cadeira? Via-se a mão
direita da senhora de vestido comprido e de corpete a prender pelo ombro a
menina que não olhava para ele, mas para o lado. Quereria fugir dali ou
descobrir o que ficava além?
Até que na penúltima página se viu a si próprio. Tinha
um corte de cabelo diferente e as mesmas roupas e pose dos demais, mas o olhar
era diferente de todos os outros. Dir‑se‑ia que sorria e lhe ia piscar o olho.
Por essa fotografia, não deitou o álbum fora. Queria
descobrir quem era aquele homem, tão parecido consigo.
Descobri-lo fê-lo também sentir que algo o ligava aos
fotografados, a razão para ter sido o álbum precioso para a tia-avó.
Lembro-me bem das avós.
ResponderEliminarE da tia-avó (Albertina).
Há aqui memórias dela na posse da minha mulher.
Beijinho