Talvez não jogassem grande coisa.
Talvez fossem um pouco chatos a pedir para que os
deixassem jogar.
Mas ainda assim, tinha sido uma grande injustiça!
Disseram-lhes que estavam fora, que tinham de ir
embora, não os queriam ali a pedinchar, como
se eles pedinchassem, e expulsaram-nos do recinto.
Ficaram de fora.
Grandes estacas de madeira contornavam todo o campo e
do velho portão de ferro não tinham vista, ficava demasiado longe e de lado
para lhes permitir ver alguma coisa.
Do lado das estacas mais próximo, conseguiam ouvir
gritos de passa a bola, imaginavam a poeira levantada pelos chutes de rapazes
na bola e nas canelas uns dos outros, os empurrões, a animação quando algum se
aproximava da baliza, os gritos de festejo “golo”, “golo”.
Queriam estar lá. Se não a jogar, pelo menos a ver, a
torcer e a participar.
Foi então que o Jaime reparou em dois buracos nas
estacas, ao mais alto não chegavam, ao mais baixo tinham de se pôr de gatas.
Foi o que experimentaram fazer e de quase irmãos, solidários na expulsão, quase
passavam a inimigos, porque o buraco não dava para que por ele espreitassem ao
mesmo tempo.
O Jaime teve então uma ideia e para compensar um
último empurrão mais forte, ofereceu-se para ser ele a ficar primeiro de gatas.
Subiu-lhe para as costas e sentiu-se um rei. Via o campo todo. Enfim podiam os
dois ver o campo todo, à vez, de cima ou de baixo. Não os tinham vencido, ele o
Jaime é que ganharam a todos eles, hoje viam o jogo, e amanhã talvez
conseguissem jogar.
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