quinta-feira, fevereiro 29, 2024

CNEC 67/39 - 7/10

 

Talvez não jogassem grande coisa.

Talvez fossem um pouco chatos a pedir para que os deixassem jogar.

Mas ainda assim, tinha sido uma grande injustiça!

Disseram-lhes que estavam fora, que tinham de ir embora, não os queriam ali a pedinchar, como se eles pedinchassem, e expulsaram-nos do recinto.

Ficaram de fora.

Grandes estacas de madeira contornavam todo o campo e do velho portão de ferro não tinham vista, ficava demasiado longe e de lado para lhes permitir ver alguma coisa.

Do lado das estacas mais próximo, conseguiam ouvir gritos de passa a bola, imaginavam a poeira levantada pelos chutes de rapazes na bola e nas canelas uns dos outros, os empurrões, a animação quando algum se aproximava da baliza, os gritos de festejo “golo”, “golo”.

Queriam estar lá. Se não a jogar, pelo menos a ver, a torcer e a participar.

Foi então que o Jaime reparou em dois buracos nas estacas, ao mais alto não chegavam, ao mais baixo tinham de se pôr de gatas. Foi o que experimentaram fazer e de quase irmãos, solidários na expulsão, quase passavam a inimigos, porque o buraco não dava para que por ele espreitassem ao mesmo tempo.

O Jaime teve então uma ideia e para compensar um último empurrão mais forte, ofereceu-se para ser ele a ficar primeiro de gatas. Subiu-lhe para as costas e sentiu-se um rei. Via o campo todo. Enfim podiam os dois ver o campo todo, à vez, de cima ou de baixo. Não os tinham vencido, ele o Jaime é que ganharam a todos eles, hoje viam o jogo, e amanhã talvez conseguissem jogar.

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