Na vida de alguns de nós podem
existir momentos determinantes, que poderão definir como seguiremos ou não com
as nossas vidas, se iremos ser tranquilos ou ousados, conformados ou
desafiantes.
Na minha vida existiu um momento
assim.
Tinha dezoito anos e sai com o meu
melhor amigo para estrearmos o seu carro "novo". Este era um Fiat já
com alguns anos que o tio lhe ia vender. Fomos até à tasca da vila sem
precisarmos de boleia dos mais velhos. Emborcámos umas cervejas, falámos dos
nossos planos para o Verão. Sentia que a minha vida estava finalmente a
começar, era adulto, podia tomar decisões por mim.
No regresso para experimentar o
carro, o Miguel deu-lhe gás.
Numa curva tudo se precipitou, ele
não conseguiu virar e eis-nos a descer a ribanceira. Pela janela aberta
irrompiam ramos de arbustos e silvas que me cortaram os braços e a cara, a
adrenalina disparou, parecia ter o coração a mil, até que o carro virou, demos
três ou quatro cambalhotas, e seguro pelo cinto vi-me quando finalmente
paramos, preso ao que passara a ser o tecto.
Pensava que o Miguel estava ao meu
lado, mas vi-o a abrir a porta do meu lado, e a soltar-me o cinto:
- Mexe-te,
tens de subir até à estrada, daqui ninguém nos vais ver!
Fiz como me disse. O caminho que
fizéramos no carro em instantes, parecia nunca mais terminar. Cheguei lá acima
sem forças, mas um carro viu-me e parou. Então apaguei.
Quendo recuperei a consciência
estava no Hospital. Doía-me tudo, mas senti e vi que continuava a ter braços e
pernas. Vi uma enfermeira e perguntei-lhe como estava o Miguel.
Ela pareceu surpreendida e
respondeu-me:
- Mas não se lembra? Ele morreu na hora, o volante esmagou-lhe o tórax, não havia nada a fazer.
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