quarta-feira, janeiro 31, 2024

CNEC 39/67 - 3/10

 

Na vida de alguns de nós podem existir momentos determinantes, que poderão definir como seguiremos ou não com as nossas vidas, se iremos ser tranquilos ou ousados, conformados ou desafiantes.

Na minha vida existiu um momento assim.

Tinha dezoito anos e sai com o meu melhor amigo para estrearmos o seu carro "novo". Este era um Fiat já com alguns anos que o tio lhe ia vender.  Fomos até à tasca da vila sem precisarmos de boleia dos mais velhos. Emborcámos umas cervejas, falámos dos nossos planos para o Verão. Sentia que a minha vida estava finalmente a começar, era adulto, podia tomar decisões por mim.

No regresso para experimentar o carro, o Miguel deu-lhe gás.

Numa curva tudo se precipitou, ele não conseguiu virar e eis-nos a descer a ribanceira. Pela janela aberta irrompiam ramos de arbustos e silvas que me cortaram os braços e a cara, a adrenalina disparou, parecia ter o coração a mil, até que o carro virou, demos três ou quatro cambalhotas, e seguro pelo cinto vi-me quando finalmente paramos, preso ao que passara a ser o tecto.

Pensava que o Miguel estava ao meu lado, mas vi-o a abrir a porta do meu lado, e a soltar-me o cinto:

- Mexe-te, tens de subir até à estrada, daqui ninguém nos vais ver!

Fiz como me disse. O caminho que fizéramos no carro em instantes, parecia nunca mais terminar. Cheguei lá acima sem forças, mas um carro viu-me e parou. Então apaguei.

Quendo recuperei a consciência estava no Hospital. Doía-me tudo, mas senti e vi que continuava a ter braços e pernas. Vi uma enfermeira e perguntei-lhe como estava o Miguel.

Ela pareceu surpreendida e respondeu-me:

- Mas não se lembra? Ele morreu na hora, o volante esmagou-lhe o tórax, não havia nada a fazer.

Sem comentários:

Enviar um comentário